Domingo, 09 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de novembro de 2025
Cientistas brasileiros da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, desenvolveram um composto com potencial para tratamento da doença de Alzheimer. Testes pré-clínicos conduzidos em laboratório e com camundongos tiveram resultados promissores, que foram publicados em um estudo na revista científica ACS Chemical Neuroscience.
Os pesquisadores solicitaram a patente da molécula e agora buscam uma parceria com empresas farmacêuticas para transformar a substância em um medicamento e levá-lo aos ensaios clínicos, feitos com humanos. Os testes são necessários para avaliar a segurança e eficácia e, caso os resultados sejam positivos, receber aprovação para uso pelas agências reguladoras.
“É uma molécula extremamente simples, segura e eficaz. O composto que desenvolvemos tem um custo baixíssimo em comparação com os medicamentos disponíveis. Portanto, mesmo que funcione apenas para uma parte da população, pois a doença de Alzheimer tem causa multifatorial, já representaria um avanço imenso frente às opções atuais”, comemora Giselle Cerchiaro, professora do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC que coordenou o estudo, em entrevista à Agência Fapesp.
De acordo com os responsáveis pelo trabalho, o composto é simples de ser fabricado, o que é um benefício frente aos tratamentos atuais. Hoje, as alternativas disponíveis mais avançadas conseguem intervir na evolução do Alzheimer, porém de maneira limitada, apenas retardando a perda cognitiva modestamente, e com altos custos e riscos de efeitos colaterais graves.
As terapias têm como objetivo eliminar as placas de beta-amiloide, uma proteína que se acumula ao redor dos neurônios no cérebro de pessoas com Alzheimer. Geralmente, são usados anticorpos que se ligam às proteínas para descartá-las. O novo composto, porém, tem uma atuação diferente. Ele age como um quelante de cobre, uma substância que se liga ao elemento metálico presente em excesso nas placas beta-amiloide promovendo a sua degradação.
“Há cerca de uma década, estudos internacionais começaram a apontar a influência dos íons de cobre como um agregador das placas de beta-amiloide. Descobriu-se que mutações genéticas e alterações em enzimas que atuam no transporte do cobre nas células poderiam levar ao acúmulo do elemento no cérebro, favorecendo a agregação dessas placas. Dessa forma, a regulação da homeostase (equilíbrio) do cobre tem se tornado um dos focos para o tratamento do Alzheimer”, explica Cerchiaro.
Por isso, o grupo de cientistas produziu uma série de moléculas capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro, e remover o cobre das placas beta-amiloides. Das 10 moléculas desenvolvidas, três foram selecionadas para testes em ratos com Alzheimer, e uma delas se destacou por sua eficácia e segurança.
Nos testes, a molécula removeu as placas beta-amiloide e diminuiu a neuroinflamação e o estresse oxidativo do cérebro dos animais. Além disso, restaurou o equilíbrio de cobre no hipocampo, região associada à memória. Na avaliação comportamental dos camundongos, os cientistas observaram que o tratamento reduziu a perda da memória, a dificuldade de noção espacial e de aprendizado dos roedores.
A pesquisa também mostrou que o composto não foi considerado tóxico nem nos testes em laboratório com células do hipocampo, nem ao ser administrado aos animais, que tiveram seus sinais vitais monitorados ao longo do experimento.