Terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Burnout entre gestores: fim de ano expõe riscos de esgotamento e exige equilíbrio emocional

 

Pressões por metas e compromissos sociais intensificam o estresse; especialistas apontam estratégias para preservar saúde mental e performance.

Com a chegada do fim do ano, cresce a pressão por resultados, fechamento de orçamentos e cumprimento de metas. Ao mesmo tempo, a vida pessoal exige energia extra com festas, compromissos sociais e expectativas para o novo ciclo. O resultado é um cenário de esgotamento físico e emocional que afeta especialmente os gestores, que acumulam responsabilidades e tendem a ignorar sinais de cansaço.

Segundo a psicóloga Helena Brochado, autora do livro Diário da Liderança com Propósito, o período é crítico para quem ocupa cargos de gestão. “Não há performance sustentável sem equilíbrio emocional e mental”, afirma. Para ela, líderes que negligenciam o autocuidado comprometem não apenas o próprio bem-estar, mas também o das equipes.

Dados preocupantes

O relatório DDI Global Leadership Forecast 2025, que analisou mais de 10 mil líderes em diferentes países, mostra que 71% relatam níveis significativamente mais altos de estresse após assumirem posições de gestão. Apenas 19% conseguem delegar de forma eficaz, habilidade considerada essencial para evitar o burnout.

No Brasil, pesquisa da Engaja S/A em parceria com a FGV revelou que o índice de engajamento caiu para 39%, o menor da série histórica. Entre executivos, a queda foi de 72% para 65% em um ano, com 25% relatando ansiedade diária e 21% sofrendo de insônia.

Dados nacionais reforçam a gravidade: entre 2019 e 2023, os afastamentos por burnout no INSS cresceram 136%, e o SUS registrou mais de 1.400 notificações da síndrome. Mulheres entre 35 e 49 anos concentram 71% dos casos. Em 2024, o Brasil bateu recorde de afastamentos por transtornos mentais, com 470 mil licenças concedidas.

A Folha de S.Paulo destacou que só nos primeiros meses de 2025 houve 5.248 novos processos trabalhistas por burnout, somando R$ 3,75 bilhões em indenizações. O dado revela não apenas o impacto humano, mas também o custo financeiro crescente para empresas e para o sistema de justiça.

Organização e autocompaixão

Para Helena, um dos caminhos para evitar a sobrecarga é gerenciar melhor as demandas do período. Ela recomenda reunir compromissos profissionais e pessoais em uma única agenda e identificar o que pode ser adiado. Também é importante priorizar atividades que tragam bem-estar, evitando o hábito de dizer “sim” a tudo.

O autocuidado, segundo a especialista, não deve ser visto como pausa na produtividade, mas como parte do desempenho sustentável. “Precisamos dizer sim para nós, com amor e paixão. Como está a sua autocompaixão?”, questiona.

Inteligência emocional e neurociência

Outro ponto essencial é desenvolver inteligência emocional para lidar com a tensão. As emoções nem sempre podem ser controladas, mas o comportamento pode — e isso impacta diretamente a forma como o líder conduz sua equipe.

A neurociência mostra que o excesso de estímulos — notificações, e-mails e redes sociais — mantém o cérebro em alerta, elevando o estresse. Enquanto a dopamina é liberada a cada novidade, o excesso aumenta a produção de cortisol, o hormônio do estresse. “No momento que tenho pausas e encontros comigo, eu me conecto, sei como estou e consigo me controlar”, explica Helena.

Liderança consciente

Para Helena, o diferencial das lideranças contemporâneas está na capacidade de autogestão emocional e na consciência sobre os próprios limites. “O líder que reconhece seus limites, prioriza o que é relevante e cultiva o autoconhecimento inspira sua equipe a fazer o mesmo”, afirma.

A Sociedade Brasileira de Psiquiatria lembra que nem todo esgotamento é burnout: a síndrome é definida como distúrbio ocupacional pela CID-11, caracterizado por exaustão emocional, sentimentos de negativismo em relação ao trabalho e redução da eficácia profissional.

Impacto e futuro

O fim do ano não deve ser encarado como período de exaustão, mas como oportunidade de reavaliar prioridades, fortalecer vínculos e iniciar o novo ciclo com mais propósito e clareza. Para especialistas, o verdadeiro diferencial das lideranças do futuro não estará apenas nas competências técnicas, mas na capacidade de se autogerir emocionalmente.

Em um ambiente de negócios cada vez mais acelerado e exigente, o equilíbrio psicológico passa a ser um ativo de performance. Ignorar os sinais de esgotamento pode custar caro — em saúde, em produtividade e em reputação.(por Gisele Flores)

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