Sábado, 02 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 2 de agosto de 2025
Os movimentos de Trump em relação ao Brasil vão tomando corpo, forma, vão formando uma “doutrina”. Ele está de olho, para começar, nas nossas riquezas minerais, nas terras raras do Brasil.
Trump já havia proclamado em alto e bom som a seu verdadeiro alvo no caso da Groenlândia, e depois de forma explícita, quando negociou com Zelenski, da Ucrânia.
Notem que isso nada ter a ver com tarifas ou sobretaxas, ou mesmo com a balança comercial do Brasil com os Estados Unidos. A defesa dos interesses comerciais e financeiros do Império precisam se renovar, buscar novas formas de manter a hegemonia.
A globalização mudou os parâmetros: expandiu a produção de bens e serviços no mundo, engendrou novas tecnologias e novos padrões de produtividade e competição. A América, embora mantivesse um alto grau de dinamismo na economia, entretanto, talvez acomodada na própria exuberância, foi ficando para trás.
A teoria de que os EUA “sugavam” a riqueza do mundo em seu próprio favor – e era por isso que os americanos eram ricos e poderosos – perdeu tração quando o jogo virou: a América foi acumulando sucessivos e colossais déficits comerciais.
Ora, se fosse por esse critério, então Trump teria sua razão: os EUA vêm sendo explorados pelos países de onde importa bens e serviços. Trump diz isso sem corar.
Os EUA vai celeremente se tornando um país ultra protecionista, no melhor estilo das economias fechadas, que ignora a regra básica da livre concorrência, pilar do capitalismo. O poder avassalador da América de Trump está a serviço direto, sem disfarces e sem intermediações institucionais, das empresas americanas, dos interesses americanos. Nada a ver com a competição saudável, senão com o exercício do poder imperial, com as canetadas de um governante excêntrico.
A retórica, as decisões de Trump estão conectadas com os grandes interesses das big techs nas redes sociais – bilhões em jogo –, que temem perder a liberdade de que desfrutam, para reproduzir as maluquices em curso, os discursos bizarros, as mentiras mais cabeludas, as ameaças mais ostensivas à democracia, sem arcar com nenhuma obrigação ou responsabilidade.
Só os muito tolos acreditam que o que está em jogo é a liberdade de expressão. Só os muitos desonestos reproduzem o mito falacioso.
No ataque ao PIX é mais fácil explicar: Trump se faz a voz das grandes empresas de cartões de pagamento e crédito. O PIX é um sucesso de tal ordem que um produto novo, sem tradição no mercado, quase de repente, retirou um quinhão substancial dos negócios e dos lucros do Visa, e Mastercard.
E se fosse só aqui – o PIX só existe no Brasil – seria possivelmente absorvido e tolerado. Mas o que amedronta as megaempresas do setor é o que está por vir. O PIX tem tudo para bombar no mundo , com custo baixo e alta capacidade de acesso a todos os agentes do cenário econômico, inclusive os mais pobres. Talvez Visa e Mastercard não quebrem, mas vão ter de pular miudinho.
Trump é bizarro, histriônico. Mas tudo no personagem é um disfarce para que ele possa tratar à vontade dos que realmente interessa: business, money.
(titoguarniere@terra.com.br)