Sexta-feira, 10 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de outubro de 2025
O Centrão está dividido. Rachado em praça pública. O pomo da discórdia dentro do grupo conhecido pela inesgotável capacidade de se manter no poder, seja qual for a orientação ideológica do governo, é a cisão entre os caciques dispostos a desembarcar da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aqueles que tentam preservar cargos e verbas oferecidos pelo Executivo na Esplanada dos Ministérios e na máquina pública.
A peleja é travada entre quem deseja apoiar a reeleição de Lula, por intuir que o petista representa maior perspectiva de poder, e quem defende candidaturas oposicionistas da direita.
Nessa ala, há ainda um outro embate, entre aqueles que pretendem afastar-se do bolsonarismo, rumo ao centro, e os que querem investir na retórica radical bolsonarista, para cair nas graças do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entrementes, Lula recupera sua popularidade e parece cada vez mais à vontade em sua campanha eleitoral antecipada.
Obrigados a deixar o governo pelos caciques do União Brasil e do PP – que integram a federação mais poderosa da Câmara dos Deputados –, os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte) anunciaram que ficarão em seus cargos.
Ato contínuo, Fufuca foi afastado da vice-presidência do PP, enquanto as juras de amor de Sabino a Lula foram duramente criticadas pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, único pré-candidato à Presidência da federação partidária.
Para Caiado, a permanência de Sabino seria “algo inadmissível”, uma “imoralidade ímpar”. Dias antes, o governador goiano já protagonizara outro embate público, com o presidente do PP, Ciro Nogueira, a quem acusou de montar a federação para cacifar o próprio nome como vice numa eventual chapa encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ele se mostrou incomodado com a avaliação de Ciro Nogueira de que só há dois nomes viáveis para a disputa de 2026: Tarcísio e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD).
Interessado em estimular a cizânia nos dois partidos que até aqui viveram simultaneamente a condição de governistas e oposicionistas, Lula indica nos bastidores que pode apoiar candidaturas dos dois ministros em seus respectivos Estados, o Pará e o Maranhão, e chamou de “pequenez” a ameaça do União Brasil e do PP de punir os ministros caso descumpram a ordem de desembarque do governo.
O presidente talvez não se lembre, mas este jornal recorda que, em 1993, o PT puniu duramente a ex-prefeita Luiza Erundina por ter aceitado participar do governo de Itamar Franco. Não há notícia de que Lula tenha criticado a “pequenez” do PT naquela ocasião.
Tais embates seriam irrelevantes caso se limitassem aos interesses privados dos envolvidos. Mas seus desdobramentos podem ter impacto direto sobre os rumos do governo nos próximos meses e, sobretudo, sobre a correlação de forças em disputa nas eleições de 2026.
Habituais fiadores da estabilidade das relações entre Executivo e Congresso, partidos centristas costumam também servir de pêndulo para fortalecer ou reduzir a musculatura política de aliados ou adversários. Estando juntos, podem assegurar ou desmontar a espinha dorsal de funcionamento do governo. Divididos, estimulam os ânimos dos petistas para o ano que vem.
E assim, em vez de discutir uma candidatura presidencial forte da centro-direita, capaz de apresentar alternativa viável a Lula e seu populismo atávico, o Centrão se perde no labirinto das picuinhas paroquiais e nos erros de cálculo de seus caciques.
Ganha Jair Bolsonaro, que segue sendo visto como líder incontornável da oposição a Lula, mesmo estando preso, condenado por tentativa de golpe de Estado, e ganha Lula, que, mesmo minoritário no Congresso, pode se dar ao luxo de desdenhar das ameaças do Centrão porque hoje não tem adversários capazes de lhe tirar o sono na corrida por mais um mandato presidencial. Não é preciso enfatizar como isso é ruim para o Brasil.