Segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de dezembro de 2021
Há quatro anos, o estatístico Robson Lunardi, 39 anos, e a especialista em turismo Bel Albernoz, 45, viviam com o filho João Pedro, 6, em uma bela casa de 167 m² na Zona Oeste de São Paulo. Eram, definem, “uma família típica de classe média, com sonhos idem”: “Ou seja, trabalhávamos cada vez mais para consumir cada vez mais e ter mais coisas. Até que tivemos burnout. Foi em nossas licenças médicas que percebemos que o custo daquela vida era muito alto. Era preciso mudar. Mudar mesmo”, conta Lunardi.
O casal investiu em alimentação saudável, com menos carne. Depois veio a busca pela sustentabilidade e o lixo zero. Logo estavam usando apenas metade do espaço em que viviam. Até que o algoritmo os apresentou ao minimalismo das tiny houses.
“No começo, a Bel se assustou: “será que não é radical demais morar em um espaço de 27m²?”. Mas não se trata apenas de viver em uma casinha, é uma filosofia de vida, um movimento”, diz Lunardi.
Eles largaram os empregos, doaram ou venderam tudo que tinham em São Paulo e partiram para os Estados Unidos a fim de pesquisar e entender a vida em casas de até 37 m², construídas de forma personalizada, desenvolvidas para simplificar a vida dos moradores, conceito que já atraía americanos interessados em uma vida mais prática, funcional, sustentável e, juram os tiners, muito, mas muito mais livre (inclusive com isenção de IPTU e IPVA).
Não há contagem oficial, mas o mercado estima que já são hoje cerca de 10 mil tiny houses nos EUA, com produção de 700 ao ano, com crescimento constante desde a crise financeira global de 2008. E os modelos mais baratos começam a ser utilizados por prefeituras, especialmente na Costa Oeste, como uma das soluções para os sem-teto.
“A tiny house é uma casa feita a partir de um reboque, que oferece também a possibilidade de mobilidade. E ao contrário dos trailers e motor homes, o foco é na moradia, não na viagem. Você pode viver cinco anos em um terreno na Mata Atlântica e depois mudar para outro no Cerrado, por exemplo”, diz Lunardi.
Menos é mais
Desde agosto de 2019 ele vive com a família na Araraúna, a primeira tiny homologada no País, que também abriga a filha mais nova da dupla, Lara, 3. Os móveis são multifuncionais, como a escada-armário, e a limpeza é “um passeio”: o “menos é mais” se reflete na facilidade de deixar tudo em ordem.
As paredes são de madeira legal, o material é reciclável ou de engenharia reversa e há mais janelas por metro quadrado do que em uma construção convencional, com ampla iluminação. Erguida sobre pedestais e a partir de um chassis de automóvel, não contamina o solo, com uso de privada seca e composteira.
“A pegada ambiental é central. Não há espaço para tralhas. Você vê e jamais esquece tudo que tem. Sabe o que foi mais complicado de se adaptar? Como a cama de casal fica num mezanino, acima da sala-cozinha, sem o pé-direito convencional, arrumá-la exige certa arte. Ah, e descer de noite para fazer xixi. Mas você se acostuma”, garante.
Após um hiato durante a pandemia (“para ver o que iria acontecer”) as encomendas e pedidos de informação aumentaram tanto que a dupla reabriu a empresa em 2020 e planeja a mudança da estrutura fabril, de um galpão em Porangaba, no interior paulista, para um espaço maior em Campinas.
E de passar a produzir quatro, e não só duas casas por vez. Eles já venderam cinco tiny e fabricam hoje outras quatro (uma para uma família do PA, outra do interior de SP, um Airbnb móvel na Serra Gaúcha e dois home offices, em SC e MG). Os preços vão de R$ 80 mil a R$ 400 mil, dependendo do projeto.