Quarta-feira, 02 de julho de 2025

Cada vez mais popular no Brasil, TikTok vira plataforma de discussão política

Gabriella Maria gostava de fazer dublagens para compartilhar com amigos por diversão e conheceu, no fim de 2019, o TikTok, um aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos. Desde então, graças a um vídeo viral publicado, a profissional da moda de 29 anos tem um perfil com mais de 72 mil seguidores e usa a rede social todos os dias.

Com uma linha de tempo personalizada conforme suas preferências, os vídeos sugeridos para ela assistir têm muito de moda, maquiagem, dublagem e política. “Eu uso o TikTok tanto para me informar quanto para diversão. Eu vejo que ele é bom para aprender pela velocidade dos vídeos”, disse ela.

Gabriella representa um perfil que se tornou alvo de presidenciáveis e atraiu as campanhas políticas para o aplicativo. A plataforma chinesa que permite a produção de vídeos de até três minutos é uma das que mais crescem no País – foi o aplicativo mais baixado em 2021 – e passará pelo primeiro teste eleitoral em 2022. Assim como quem disputou as eleições de 2020 usou o TikTok para conquistar um eleitorado jovem, os principais candidatos deste ano ao Palácio do Planalto também passaram a utilizar esse ambiente.

Em junho passado, o ex-presidente Lula (PT) estreou um perfil na plataforma. Com pouco mais de 300 mil seguidores e 1,5 milhão de curtidas acumuladas, o petista tem um longo caminho para tentar igualar o desempenho de seu principal adversário na eleição de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mais familiarizado com as redes sociais, o candidato à reeleição tem 2 milhões de seguidores e 21,4 milhões de curtidas acumuladas em seus vídeos no TikTok. Bolsonaro criou seu perfil no aplicativo em outubro do ano passado.

Levantamento da especialista em Comunicação e Marketing da Universidade Federal Fluminense (UFF) Luiza Mello e do cientista político da Universidade Federal do Paraná Djiovanni Marioto mostrou que, entre 2020 e 2022, o número de curtidas nas principais hashtags movidas em apoio a Lula e a Bolsonaro – os candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora – aumentou em 20 vezes.

“O TikTok é uma plataforma extremamente viral que induz ao compartilhamento de informações”, disse Luiza. “Isso é algo muito buscado numa campanha política. A linha do tempo do TikTok é alimentada pelos interesses das pessoas e não pelo conteúdo dos seus amigos. Isso aumenta a potencialidade da viralização, por isso políticos usam a rede.”

Estudo do Laboratório de Combate à Desinformação e ao Discurso de Ódio em Sistemas de Comunicação em Rede da UFF detectou 300 políticos com conta no TikTok, com 265 contas ativas que somam mais de 23 mil vídeos. Há quase duas vezes mais políticos de direita do que de esquerda na rede social. O primeiro grupo tende, estatisticamente, a acumular mais seguidores e mais curtidas.

“O TikTok é importante do ponto de vista estratégico, pois funciona como uma espécie de elo nessa cadeia produtiva”, afirmou o professor de Estudos de Mídia da UFF e coordenador do estudo, Viktor Chagas. “Há muitos vídeos sendo compartilhados externamente, principalmente no WhatsApp. O político ganha muita capilaridade.”

O grande diferencial do TikTok em relação a outras plataformas é a duração dos vídeos, com possibilidade de fazer edições, além de oferecer a opção de inserção de recursos interativos, que vão de enquetes a lives. Se antes a plataforma era de vídeos com “dança e coreografia”, hoje ela oferece informação imediata.

Ainda de acordo com a pesquisa, o TikTok foi o aplicativo que mais cresceu globalmente entre 2021 e 2022, alcançando 40% de usuários entre 18 e 24 anos, dos quais 15% usando a rede para consumir notícias. Assim, candidatos intercalam conteúdos políticos e memes.

“De eleição em eleição, a política vai migrando para as plataformas que as pessoas estão usando”, disse a pesquisadora em Democracia e Comunicação Digital Maria Carolina Lopes. “Em 2020, houve grande atenção midiática para o Instagram. Mas deverá haver uma virada para o TikTok.”

Para o professor Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo, o atrativo do TikTok é a maior presença de usuários jovens e de faixa de renda menor. “Os influenciadores que nascem do TikTok são mais negros, periféricos e nordestinos. Isso faz com que a temática que envolva essa classe apareça mais no TikTok do que no Instagram ou no Facebook”, observou Malini. Dados de pesquisa do Opinion Box de junho indicam que 88% dos que usam a plataforma são das classes C, D e E.

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