Sábado, 15 de novembro de 2025

Calor intenso pode dobrar número de mortes infantis no Brasil, diz estudo

O aumento das temperaturas pode levar a uma alta recorde de mortes de crianças menores de cinco anos no Brasil nas próximas décadas, mesmo com as projeções de redução da população infantil e da queda da mortalidade geral devido ao crescimento da expectativa de vida.

É o que revela uma nova análise feita por pesquisadores da LSHTM (London School of Hygiene & Tropical Medicine), em parceria com a Fiocruz Bahia e com apoio da Welcome Trust. Foram investigados os impactos de dois cenários de emissões de carbono em 130 municípios brasileiros, de todas as regiões, entre 2049 e 2059.

A análise faz parte de um relatório sobre os efeitos das mudanças climáticas na saúde de mães, bebês e crianças, publicado em julho de 2025.

Hoje, a taxa média de mortalidade infantil associada ao calor é de 1,07 por 100 mil crianças. No cenário de altas emissões de carbono (SSP5-8.5), com projeção de aumento de temperatura entre 4°C e 5°C, o crescimento de mortes infantis pode chegar a 87% em apenas uma década —a taxa passaria para 2 por 100 mil habitantes, praticamente o dobro.

Mesmo em cenários moderados, com emissões intermediárias de carbono (SSP2-4.5) e aumento de temperatura entre 2,5°C e 3°C, o número de mortes de crianças pode subir até 50%. A taxa de mortalidade chegaria a 1,47 por 100 mil.

Na prática, isso significa que o aquecimento global pode reverter parte das conquistas em sobrevivência infantil obtidas nas últimas décadas.

Para a pesquisadora Enny Paixão Cruz, professora associada da LSHTM e pesquisadora da Fiocruz Bahia, os números mostram uma ameaça real e crescente. “Se nada for feito para mitigar o aquecimento global e o pior cenário se concretizar, teremos quase o dobro de óbitos em menores de cinco anos do que seria esperado caso a temperatura não aumentasse.”

A análise usou dados de temperatura e mortalidade entre 2000 e 2019, combinados com projeções populacionais dos Censos de 2010 e 2022. O modelo indica que cada aumento de 1°C acima de um valor de referência já elevado (percentil 75) cresce de forma consistente o risco de morte entre crianças pequenas —com efeitos acumulados em até sete dias.

As crianças são especialmente vulneráveis às altas temperaturas porque, entre outros motivos, perdem fluídos e eletrólitos mais rapidamente por meio da transpiração, tornando-as mais suscetíveis à desidratação.

Segundo o infectologista Victor Horácio de Souza Costa Júnior, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), os impactos das mudanças climáticas já são visíveis no cotidiano do serviço de saúde. Há cinco anos, os atendimentos de bronquiolites e pneumonias, por exemplo, se concentravam entre abril e julho. Agora, ocorrem durante todo o ano.

“Estamos vendo aumento das doenças respiratórias por causa das variações extremas de temperatura, que reduzem o sistema imunológico da criança. Também cresce o risco de desidratação e de doenças transmitidas por vetores, como dengue, zika e chikungunya.”

O pesquisador Willian Cabral, do Instituto Pensi, explica que ondas de calor e poluição têm impacto direto nos prontos-socorros. “Identificamos que dias com poluição mais alta estão associados a mais atendimentos por doenças respiratórias.”

O estudo mostra também grandes variações regionais. Municípios do Norte e Nordeste, historicamente mais vulneráveis, devem sofrer impactos maiores do que os do Sul e do Sudeste. As diferenças em saneamento, habitação e acesso à saúde explicam grande parte dessa disparidade.

 

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