Segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 22 de dezembro de 2025
Andamos sós pela estrada que na juventude parecia infinita. Dia, noite ou madrugada, não importa. A vida não pergunta a hora, apenas chama.
Entre alentos e pedradas, entre água que cura e água que afoga, seguimos em frente. Seguimos porque parar nunca foi uma opção para quem nasceu com o peito inquieto.
Porque cada passo que dói também empurra. Flores, choros, agonias, alegrias e tristezas, tudo no mesmo jardim. A vida nunca separou os extremos, foi preciso aprender a atravessar ambos com o mesmo silêncio e firmeza. Mesmo assim, prosseguimos…
Porque também há alegrias. Há prazeres, risadas, sensações, tentações e coisas que machucam quando vêm em excesso, mas que moldam quando chegam na dose certa.
É assim que se lapida um cronista, e assim que se esculpe um poeta. Todos nós somos cronistas do cotidiano e poetas de nossa própria história.
E é no atrito, no brilho, no tropeço, no milagre de continuar vivo, caminhando, chorando, rindo, amando, sendo amado e também odiado, sonhando acordado como quem desafia o próprio destino, que nos tornamos pessoas melhores.
Vivendo e, enfim, se soltando pouco a pouco das amarras que um dia pensávamos que seriam eternas. Crescendo, mesmo quando o mundo tenta encolher.
Também aprendemos a olhar para nossas próprias iniquidades para não permitir que a arrogância ou a soberba nos dominem e nos ceguem. Nossos olhos marejados e cansados já viram quase tudo nesta vida. Já escutamos demais, falamos demais…
Hoje, mais do que qualquer outra coisa, buscamos o equilíbrio. Porque a estrada é longa, mas a alma é maior…
E é nela, nessa vastidão que ninguém vê, que sigo encontrando minha própria voz. O que mais impressiona em toda essa estrada é a beleza do caminho e, principalmente, o quanto ele sabe endurecer e nos surpreender.
Quando imaginávamos que ele estava chegando ao fim, quando a sensação era de que nada mais havia para viver ou aprender, a estrada, como quem guarda segredos antigos, se abre…
Ela se alarga, cresce, ganha brilho e profundidade. E, de repente, um novo horizonte começa a nascer, onde antes eu só enxergava cansaço e desesperança.
É nessas horas que percebemos que ainda não é o fim. Nós é que não tínhamos entendido o começo…
Porque só quando começamos a olhar para dentro de nós mesmos, e aceitar nossas falhas, nosso tempo, nossas marcas, é que conseguimos reconhecer a curva que leva ao próximo capítulo. E é só dali em diante, dessa revelação, que passamos a entender outra coisa…
Muitas vezes, caminhar embaixo de chuva torrencial e frio quase insuportável pode ser desconfortável, mas nos fortalece. E, quando tentamos desviar do caminho, pegar atalhos, ou inventar rotas que prometem facilidade, descobrimos que quase sempre elas podem nos custar a própria vida.
Às vezes, é preciso aceitar as lições que o universo nos traz, as duras, as que doem, as que machucam e assustam. Porque são justamente elas que nos tornam mais fortes, mais lúcidos e menos inclinados a repetir os mesmos erros.
E, depois de reconhecer tudo isso, poder enxergar… Então, perceber que amadurecemos, que crescemos, que aprendemos, não pelas palavras, mas pela experiência da travessia.
E, principalmente, entender o que de fato é essencial. A estrada… Ela não recompensa quem chega primeiro. Recompensa quem não desiste de caminhar.
E assim eu sigo. Não porque já sei para onde vou, mas porque descobri quem sou enquanto caminho.
E, assim como eu, você também pode descobrir…
* Fabio L. Borges, jornalista, cronista e poeta