Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Caminhada, tumulto e medo: Brasileiro faz relato sobre fuga da Ucrânia após invasão russa

Morando na Ucrânia há menos de um mês, o atleta brasileiro Murilo Koefender Maia, de 23 anos, recebeu a notícia da eclosão do conflito na região pelo pai, que ligou do Brasil ainda de madrugada para avisa-lo da movimentação de tropas russas na fronteira. Nas horas seguintes, ele e um grupo de outros sete jogadores de futebol brasileiros organizaram a fuga para a Polônia. Em tempos de paz, a viagem seria concluída em menos de duas horas, mas a jornada apenas teve fim após 24 horas.

“O clima na fronteira era muito tenso. Muita dispersão de família, os pais ficando e as mães e filhos saindo do território. Cenas que me deixam sem palavras. Extremamente desagradáveis, que eu torço que nenhuma nação passe”, lembra o brasileiro sobre as horas passadas em Shehyni, na fronteira com a Polônia, país onde buscou abrigo.

Murilo Maia deixou o seu apartamento na cidade de Bribka, que não sofreu ataques até o momento, por volta das 14h da quinta-feira (24). Ele, os colegas e dois treinadores haviam conseguido uma van que os levaria até a fronteira. A van deixou o grupo a cerca de 10 quilômetros de distância da Polônia, um trecho que precisou ser percorrido a pé, com eles carregando as malas.

O grupo chegou na fronteira por volta das 20h30 e se deparou com uma extensa fila de ucranianos e estrangeiros que tentavam deixar o país: “Ficamos na rua a noite inteira. Uma noite muito fria. Conseguimos entrar no solo polonês por volta das 15h30 da tarde. Estamos acordados há mais de 30 horas”, disse o atleta, de um restaurante na cidade polonesa Przemysl.

A espera teve seus momentos de tensão, conforme a impaciência dos ucranianos crescia com os militares que coordenavam a fronteira.

“Devido à falta de soldados, mulheres e crianças não conseguiram passar com a prioridade necessária. A população se incomodou muito com a espera. Foi uma pessoa atropelando a outra. Muito empurra-empurra, muito tumulto. Muitos homens gritando com as mães com bebês. Vi famílias inteiras passando para a fronteira e os homens tendo que voltar”, conta o brasileiro, que descreve a situação da população ucraniana como ‘desumana’.

Nascido no Paraná, Murilo Maia havia ido para a Ucrânia treinar futebol com a esperança de conseguir emprego em um dos times do país. “Infelizmente a guerra impediu esses planos. Mas eu sigo treinando em solo europeu pra buscar uma oportunidade.”

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