Segunda-feira, 01 de dezembro de 2025

Campo magnético terrestre funciona como GPS natural para tartarugas-marinhas

Uma nova pesquisa revelou como as tartarugas-marinhas-cabeçudas (Caretta caretta) se localizam nos oceanos e “sabem” qual direção seguir: por meio de um mapa magnético da Terra, como um GPS.

Vários animais usam o campo magnético terrestre como meio de locomoção, o que permite regressar ao seu habitat após longos períodos migratórios. Tal característica evoluiu diferentes vezes na linhagem evolutiva dos vertebrados, e pouco se sabe ainda sobre os mecanismos por trás desse sentido.

Uma hipótese é que eles usam quimiorreceptores magnéticos guiados por luz, que funciona como uma bússola interna, dando uma direção associada a um campo magnético. A outra é a presença de magnetorreceptores capazes de ativar uma cadeia neural, como uma leitura precisa de “onde” o animal está e para onde ir.

Em um artigo publicado na revista Journal of Experimental Biology, Alayna Mackiewicz, doutoranda do departamento de Biologia da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (EUA), e colegas revelaram que as tartarugas não só possuem uma bússola interna capaz de dizer em qual direção seguir mas que também são capazes de “aprender” o mapa magnético terrestre e definir sua localização.

Segundo Mackiewicz, a principal hipótese sobre o mecanismo de funcionamento desse “GPS interno” é que ele é formado por pequenos cristais magnéticos chamados magnetita que giram livremente e se alinham ao campo magnético da Terra, “sentindo” a localização. “Esses pequenos ímãs podem permitir que um animal ‘sinta’ informações magnéticas. A nossa pesquisa nos permite explorar essas questões para nos ajudar a entender como os animais percebem essas informações”, explica ela.

Metodologia

Para testar qual das duas hipóteses está presente nesses répteis, os pesquisadores utilizaram 16 filhotes de Caretta caretta que foram acondicionados por dois meses em um campo magnético de duas localidades: as ilhas Turcas e Caicos (território britânico ultramarino) e o entorno do Haiti. Para essa etapa, elas aprenderam a associar o campo magnético de cada uma das localidades com alimento. Em resposta, elas mostravam um comportamento chamado “dança de tartaruga”, que consistia em agitar suas nadadeiras em círculos e abrir a boca à espera do alimento.

Em seguida, as mesmas tartarugas foram submetidas a três testes em laboratório: manipuladas a fim de receber um breve pulso magnético por meio de uma bobina metálica, manipuladas da mesma maneira, mas sem receber nenhum pulso (simulação) ou então não foram manipuladas de forma a não receber nem o pulso, nem a simulação de pulso (grupo controle). A intenção dos pesquisadores era avaliar se o pulso magnético desabilitaria temporariamente seu senso de localização —fazendo-as dançar independentemente de onde estavam— ou se elas ainda eram capazes de saber onde estavam no campo magnético da Terra.

Como resultado, houve uma diferença significativa entre o grupo simulado e controle, o que sugere que elas “sabem” onde estão. Assim, foi possível comprovar que as tartarugas-cabeçudas usam, de fato, a magnetita para se posicionar geograficamente.

Os autores afirmam, porém, que não é possível descartar completamente explicações alternativas. “Como o ensaio que utilizamos é o primeiro em qualquer animal a desacoplar o mapa magnético da bússola magnética, trazemos a evidência mais direta até o momento de que um pulso magnético afeta o ‘GPS’. Estes resultados reforçam as evidências até então de que dois mecanismos diferentes de magnetorrecepção estão envolvidos em alguns animais”, disseram eles no estudo.

Os pesquisadores ressaltaram que mais trabalhos são necessários para afirmar se estes sistemas duplos estão amplamente difundidos no reino animal, ou estão restritos a poucos animais.

Outras formas

De acordo com a pesquisadora, apesar de terem usado alimento para treinar as tartarugas, esse é um dos usos do seu sentido de navegação, mas não o único. Os filhotes das tartarugas-marinhas, ao eclodirem dos ovos em uma praia, nadam em direção ao mar, onde vivem suas vidas adultas e regressam ao local de nascimento para reprodução.

Segundo ela, considerando que muitos dos habitats naturais das tartarugas-cabeçudas se encontram ameaçados por ação humana, o novo estudo pode ajudar a informar áreas prioritárias para proteção e também estruturas, como cabos elétricos submarinos, que podem perturbar o seu campo magnético natural e, assim, interferir nas migrações. “O nosso ensaio permite explorar essas questões para nos ajudar a entender como os animais percebem informações magnéticas, o primeiro passo crucial para qualquer política de conservação.” As informações são da Folha de S. Paulo.

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