Sábado, 11 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 11 de outubro de 2025
Segundo um novo relatório da Vital Strategies, organização global de saúde pública, 157,4 mil mortes por câncer podem ser evitadas no Brasil até 2050 se a população que consome álcool reduzir sua ingestão média diária em uma dose. O impacto seria observado especialmente para o câncer de intestino, com 30,4 mil vidas poupadas, e para o de esôfago, com 30,1 mil óbitos a menos.
A relação entre álcool e um diagnóstico oncológico é bem estabelecida pela literatura científica. De acordo com um estudo publicado na revista The Lancet Oncology por pesquisadores da Agência Internacional de Pesquisa para o Câncer (Iarc), da Organização Mundial da Saúde (OMS), 741,3 mil casos de câncer em 2020 foram causados pela bebida no mundo, 4,1% do total. No Brasil, foram 20,5 mil diagnósticos naquele ano.
Além disso, com base nos dados da Iarc, o novo relatório aponta que são estimadas de 11 a 14 milhões de mortes por câncer no Brasil nos próximos 25 anos, das quais mais de 415 mil devem ser causadas pelo álcool.
“Poucas pessoas sabem que existe essa relação e, mesmo quando já ouviram falar em algum lugar, não compreendem bem o mecanismo. Precisamos de mais iniciativas que aumentem a conscientização pública e comunitária e, para serem eficazes, elas precisam ser feitas em linguagem cotidiana, com mensageiros confiáveis e por meio de canais de confiança”, avalia a médica Mary-Ann Etiebet, presidente e CEO da Vital Strategies.
Os responsáveis pela análise lembram que a taxa de tabagismo caiu 74% de 1989 a 2023 no Brasil com uma ação coordenada que envolveu leis rigorosas, campanhas de conscientização pública, alertas em embalagens e impostos mais altos sobre tabaco. Essa redução deve evitar 7 milhões de mortes prematuras (antes dos 70 anos) até 2050 no país.
“O Brasil, reconhecido mundialmente por seus avanços no controle do tabaco, oferece um exemplo concreto do que políticas consistentes podem alcançar. Nossa iniciativa mostra por que este é um momento oportuno para expandir medidas eficazes também em relação ao álcool, e como outros países podem se inspirar na experiência brasileira para reduzir a exposição e, consequentemente, o impacto do câncer”, avalia Mary-Ann Etiebet.
Em relação ao álcool, foram feitas simulações do impacto a partir de três cenários: o de redução de uma dose (12g de álcool) por dia, de duas (24g) e de três (36g). A dose equivale a, em média, uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de destilado. Os estudos, porém, analisam apenas o volume de álcool, e não o tipo de bebida. Foram considerados os casos de câncer de esôfago, fígado, laringe, faringe, mama, intestino e de lábio e cavidade oral, todos já relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas.
O relatório utilizou dados de risco específico para cada tipo de câncer por nível de consumo, disponíveis no estudo Global Burden of Disease (GBD), de padrões de consumo de álcool na população brasileira, disponíveis em um monitoramento da OMS, e de projeções futuras de mortalidade, provenientes da Iarc. Com isso, calculou a fração de mortes atribuíveis a cada cenário simulado.
“Os resultados representam a redução estimada no câncer assumindo que os riscos relativos subjacentes de desenvolver os diferentes tipos de câncer devido ao consumo de álcool permaneçam constantes no período considerado”, explica o relatório.
Os números mostraram que, se os brasileiros diminuírem uma dose da média diária de consumo, 157.444 vidas serão poupadas até 2050: 30.381 por câncer de intestino; 30.117 por de esôfago; 23.663 por de lábio de cavidade oral; 23.031 por de mama; 22.312 por “outros faríngeos”; 14.668 por de laringe; 10.961 por de fígado e 2.311 por de nasofaringe.
Já se a redução for de duas doses, o número de mortes evitadas sobe para 252.106: 50.141 por câncer de esôfago; 48.753 por de estômago; 37.777 por de lábio de cavidade oral; 37.072 por “outros faríngeos”; 31.939 por de mama; 24.818 por de laringe; 17.749 por de fígado e 3.857 por de nasofaringe.
No melhor cenário, em que a população do país passa a consumir três doses a menos, serão 317.654 óbitos evitados até 2050: 66.747 por câncer de esôfago; 59.252 por de estômago; 47.467 por de lábio de cavidade oral; 47.099 por “outros faríngeos”; 37.641 por de mama; 31.683 por de laringe; 22.903 por de fígado e 4.862 por de nasofaringe. (Com informações do jornal O Globo)