Sábado, 03 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 2 de maio de 2025
Mais nova baixa do governo Lula, o agora ex-ministro da Previdência Carlos Lupi viveu um enredo semelhante ao desgaste que já havia inviabilizado sua permanência no primeiro escalão de uma gestão petista há 14 anos.
Nove dias depois de uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelar um amplo esquema de fraudes em descontos associativos de aposentadorias e pensões do INSS, Lupi se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto e deixou o posto.
Auxiliares de Lula passaram a defender a saída diante da análise de que Lupi demorou a tomar medidas. Em entrevista, ele mesmo reconhece que “sabia o que estava acontecendo”.
As entidades sob investigação receberam, segundo a PF, R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024 a partir de descontos diretamente do contracheque de aposentados e pensionistas. Mas não se sabe o quanto disso efetivamente foi pago irregularmente. O então presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo por decisão judicial e depois demitido por Lula.
Crise em 2011
Em 2011, quando integrava o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, Lupi viveu situação parecida. Ele pediu demissão após uma série de denúncias de irregularidades no Ministério do Trabalho, então chefiado por ele.
Na época, a Comissão de Ética Pública recomendou à presidente a exoneração. Ele foi acusado de ter acumulado entre 2000 e 2005 dois cargos de assessor parlamentar em órgãos públicos distintos e foi apontado como funcionário fantasma da Câmara dos Deputados entre 2000 e 2006.
Na ocasião, Lupi apresentou sua demissão, dizendo que saía com “a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal, e confiante, por acreditar que a verdade sempre vence”. Em meio a todas as polêmicas, ele foi também acusado de ter viajado em um avião alugado por um empresário que obteve posteriormente contratos de projetos ligados ao ministério.
O uso da aeronave teria ocorrido em 2009, no segundo governo Lula, quando Lupi já era ministro do Trabalho.
O caso só veio à tona em 2011 depois que um site de notícias divulgou uma foto de Lupi saindo de uma aeronave no Maranhão, segundo o proprietário do portal. O avião em questão havia sido alugado por um responsável por ONGs que receberam verbas de convênios com a pasta. O caso foi revelado pela revista Veja.
Em nota divulgada na época, o ministério afirmou que a viagem do ministro tinha atividades do ministério e partidárias e, nesses casos, a aeronave foi de “responsabilidade” do PDT, partido de Lupi.
Ao portal O Globo, o empresário em questão contestou na ocasião declarações do ministro de que os dois não se conheciam. O homem afirmou que possuía “elementos suficientes” para fazer o ministro refrescar a memória e confirmou que “providenciou” o avião.
— Queria contestar essa história do ministro. Eu queria dizer claramente que o ministro está equivocado ou está sem memória — disse o empresário.
Relações políticas
Lupi assumiu a presidência nacional do PDT em 2004, quando morreu Leonel Brizola, seu padrinho político, e não saiu do cargo desde então. Atualmente, ele está licenciado da função. Assim como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) é ligada ao PT, o PDT tem uma conexão histórica com a Força Sindical que representa diversos sindicatos e federações de trabalhadores.
Em 2015, quando o governo Dilma já estava em crise, Lupi chegou a dizer publicamente que o PT roubou demais e que o partido “se esgotou”.
— O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobras. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder — disse em abril de 2015 a correligionários, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
Neste terceiro governo Lula, ele voltou como ministro com o apoio de Ciro Gomes, que havia disputado a Presidência da República em 2022. Quando foi anunciado, Lupi disse que Lula o pediu empenho para reduzir as filas do INSS.
A espera para conseguir o benefício, porém, não diminuiu. A fila fechou o ano de 2024 com 2,042 milhões de requerimentos por benefícios sociais e da Previdência. É o maior número de requerimentos aguardando análise em todo o terceiro mandato, após a promessa de campanha de acabar com a fila.
O tempo médio de espera foi de 46 dias em dezembro. A meta de Lupi, porém, era reduzir o tempo de análise de requerimentos de benefício assistencial e previdenciário para 30 dias.
Durante a sua gestão, Lupi também trabalha recorrentemente para reduzir o teto de juros do empréstimo consignado dos aposentados. Esses movimentos, porém, chegaram a levar a suspensão de empréstimos, já que os bancos passaram a operar as taxas no negativo. As informações são do portal O Globo.