Sábado, 04 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 4 de outubro de 2025
“Desde que vieram à tona casos de contaminação por metanol em bebidas alcoólicas, entidades do setor passaram a recomendar o descarte adequado das garrafas originais compradas por bares e restaurantes para reduzir riscos de reutilização criminosa. Na prática, entretanto, o procedimento nem sempre é seguido corretamente, e donos de estabelecimentos relatam dificuldades para inviabilizar os vasilhames.
Na internet, é comum encontrar garrafas vazias de diferentes marcas sendo anunciadas como “para artesanato”, mas muitas vezes ainda com rótulos e tampas originais. Isso transforma o recipiente em ativo valioso para falsificadores, que podem enchê-los com líquidos adulterados.
Em São Paulo, bares recorrem à coleta seletiva da prefeitura ou a parcerias com cooperativas de reciclagem. A lei prevê que grandes geradores de resíduos contratem empresas especializadas para o recolhimento. Mesmo assim, não há garantia de que garrafas descartadas por consumidores ou pequenos estabelecimentos não acabem reaproveitadas.
Segundo Lucien Belmonte, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), recipientes de marcas famosas, especialmente de destilados, são produzidos exclusivamente para cada bebida. Quando não são inutilizados, tornam-se alvo fácil de falsificação. Ele defende que o setor compartilhe a responsabilidade sobre o descarte e sugere mudanças na legislação para enquadrar como crime o armazenamento de garrafas destinadas a esse fim.
Casos de oferta chamam atenção. Há garrafas de uísque vendidas em sites de compra e venda por até R$ 300. Já garrafas de cerveja podem aparecer a R$ 1 o quilo. Em todos os casos, uma vez reutilizadas, podem voltar ao mercado com conteúdo adulterado.
Empresários relatam tentativas de cooptação. O cofundador do bar Trinca, Alê Bussab, contou que já recebeu proposta para vender recipientes após eventos, mas recusou diante do risco de uso ilegal. Outros estabelecimentos relatam situações semelhantes.
Rildo Ferreira, diretor da empresa de reciclagem Massfix, afirma que a destruição dos recipientes é o caminho mais seguro, mas reconhece que o descarte incorreto ainda é frequente. Para ele, a logística reversa pode ajudar a reduzir a falsificação.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP) sugere que, na falta de máquinas trituradoras — que custam até R$ 40 mil —, os estabelecimentos façam riscos permanentes ou lixem as garrafas para inutilizá-las.
Arthur Rollo, ex-secretário Nacional do Consumidor, reforça que a coleta adequada encarece a falsificação e facilita a identificação de fábricas clandestinas. Já a Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) argumenta que a obrigação de recolher e triturar deveria ser da indústria produtora, e não dos bares e restaurantes, sob pena de elevar custos para pequenas empresas e consumidores.”
(Com O Globo)