Terça-feira, 14 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de outubro de 2025
Descrever as cataratas do Iguaçu é tarefa ingrata. Há quem recorra aos números: 275 quedas d’água despejando 1,5 milhão de litros por segundo, formando uma espuma que sobe até 80 metros. Outros preferem histórias, como a da ex-primeira-dama americana Eleanor Roosevelt, que ao vê-las teria dito “my poor Niagara”, lamentando as cataratas de seu país. Já os guaranis, primeiros habitantes da região, explicam o fenômeno em lendas: a serpente Mboi teria aberto a fenda para impedir a fuga de Naipi e Tarobá, dois amantes.
No lado argentino, o cenário é de um abismo prateado e enevoado, impossível de ver até o fim. As passarelas foram erguidas acima do rio, levando o visitante ao coração do espetáculo. Embora 80% das quedas estejam na província de Misiones, muitos dizem que a melhor vista é a do Paraná, de onde se observa o conjunto inteiro. Mas a comparação é injusta: as trilhas argentinas são mais selvagens e oferecem hospedagens imersas na mata.
Puerto Iguazú é um vilarejo diante da infraestrutura de Foz do Iguaçu. Enquanto a cidade brasileira investe em roda-gigante, shoppings, museu de cera, parque de dinossauros e até uma futura unidade do Pompidou, do outro lado da fronteira sobrevivem aldeias indígenas e lodges de luxo escondidos na mata atlântica. Após cruzar a imigração, saem os canteiros de obras e surgem arroios tranquilos, ideais para caiaque e trilhas, como as da rede Awasi. Às margens das estradas, guaranis vendem esculturas de madeira — jacarés, araras, tatus e jaguatiricas.
O Parque Nacional Iguazú abre às 8h. Convém chegar antes para caminhar meia hora pela trilha de terra ou tomar o trem que cruza o parque, com saídas a partir das 8h30. Apressando o passo, dá para aproveitar o visual antes da chegada dos grupos. Com sorte, é possível avistar tucanos sobrevoando o caminho. O percurso termina em uma passarela metálica de quase um quilômetro sobre o rio Iguaçu, conduzindo até a Garganta do Diabo — a mais famosa das quedas, uma ferradura gigantesca de jatos violentos e espuma densa.
No trajeto, aparecem restos de passarelas destruídas por cheias antigas, onde tartarugas tomam sol. É bom levar binóculo. Na volta, bandos de quatis se aproximam em busca de comida. Segundo os guias, eles ficam perto dos humanos para evitar as onças-pintadas, suas predadoras naturais. Apesar da aparência dócil, os animais podem morder, alertam as placas do parque.
Outras trilhas levam a ângulos distintos das cataratas, margeando as quedas até a ilha de San Martín, cercada por cortinas d’água. Lá está La Ventana, uma abertura nas rochas em forma de janela, de onde se observa o lado brasileiro. O Sendero Macuco é a rota mais selvagem do parque argentino, embora de baixa dificuldade. A trilha, quase plana, leva à cascata Salto Arrechea, de 20 metros, onde é possível nadar. Com atenção, avistam-se macacos-prego saltando entre as árvores.
Para encerrar, há o Gran Aventura, passeio de barco que chega ao pé das cataratas. O tour começa com um trajeto de jipe por 20 minutos até o embarcadouro, no meio da floresta. Dali, partem botes lotados de turistas com coletes salva-vidas que encaram as corredeiras sob gritos e risadas. No fim, vem o batismo: um mergulho completo sob as quedas. Nenhuma capa de chuva resiste.
Do lado brasileiro, também há passeios de barco — mas com um único “banho”. “Aqui são dois batismos”, brinca o condutor argentino.
(Folhapress)