Segunda-feira, 04 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 4 de agosto de 2025
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu um passo importante rumo à reformulação da gestão financeira dos clubes nacionais. Durante o Fórum Sustentabilidade em Campo, realizado nesta segunda-feira (4) em São Paulo, o vice-presidente da entidade, Ricardo Gluck Paul, afirmou que o cenário atual do futebol brasileiro oferece as condições necessárias para implementar um sistema de fair play financeiro — mecanismo já adotado em ligas europeias para controlar gastos e evitar endividamentos excessivos.
“Quando se fala de sustentabilidade, fica muito ancorado no meio ambiente e se esquece de outros pilares importantes. A gente precisa de uma estratégia nacional para conter a dívida dos clubes brasileiros e criar um ambiente mais sustentável”, declarou o dirigente.
Ricardo Gluck Paul está à frente do grupo de trabalho que vai elaborar o modelo de fair play financeiro no Brasil. A comissão contará com representantes dos 20 clubes da Série A, 13 da Série B e dez federações estaduais. A primeira reunião está marcada para a próxima segunda-feira (11), no Rio de Janeiro.
O plano é que, em até 90 dias, o grupo apresente um relatório com as diretrizes do sistema, que será submetido à presidência da CBF para definição sobre o formato e o cronograma de implementação.
Segundo Ricardo, o debate sobre controle financeiro não é novo. Em 2019, já havia planos para conter gastos e estabelecer limites, mas o projeto não avançou. Ele comparou a situação atual a um navio que já colidiu com o iceberg:
“Naquela época, a gente estava vendo o Titanic indo na direção do iceberg e tínhamos como desviar. Hoje, o navio já chocou com o iceberg, está afundando. O filme mostra dois comportamentos: quem escolheu tocar música e aguardar o navio afundar, e quem tentou jogar uma boia, salvar pessoas. A CBF escolhe enfrentar com coragem, jogar a boia.”
A expectativa da CBF é que o sistema de fair play financeiro entre em vigor a partir de 2026, com uma transição em etapas. A ideia é permitir que os clubes se adaptem progressivamente ao novo modelo, com fases iniciais, intermediárias e posteriores.
Ricardo destacou que o problema no Brasil é amplificado pelas altas taxas de juros, o que torna o endividamento dos clubes muito mais grave do que o enfrentado por equipes europeias:
“Lá, os clubes se endividaram com juros de 1%. No Brasil, com juros de 15%, é um problema 15 vezes maior.”
A proposta de fair play financeiro surge como uma resposta à crise estrutural que afeta o futebol nacional. Para a CBF, o momento exige coragem e ação coordenada entre clubes, federações e dirigentes. A meta é criar um ambiente mais saudável, transparente e sustentável — não apenas dentro de campo, mas também fora dele.