Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de abril de 2025
Condenado a oito anos e dez meses por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente e ex-senador Fernando Collor de Mello passou o primeiro final de semana na Penitenciária Baldomero Cavalcante, em Maceió (AL), sem receber visitas de parentes.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o político recebeu R$ 26 milhões em propina entre 2010 e 2014 por intermediar contratos da BR Distribuidora, vinculada à Petrobras, com a UTC Engenharia, do empreiteiro Ricardo Pessoa. Ele cumpre pena desde a madrugada de sexta-feira, após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), expedir o mandado de prisão.
Segundo policiais penais que trabalharam no final de semana, Collor está recluso em uma ala especial, localizada logo na entrada do presídio. Após o portão que separa o corredor administrativo da parte interna da unidade, basta caminhar cerca de 30 metros à direita para se chegar ao módulo reservado a presos com direito a sala de estado maior. A ala, situada ao lado da diretoria, é isolada dos módulos comuns, que abrigam detentos por tráfico, roubo e homicídio.
A cela de Collor é individual e descrita pelos policiais como “um quarto”, sem grades ou trancas de cadeado. O acesso se dá por uma porta de madeira, liberada pelos agentes. O espaço possui ventilador, televisão, banheiro privativo com chuveiro, cama de concreto e colchão comum, além de uma pequena janela superior gradeada. As paredes seguem o padrão cinza da unidade. O forro de concreto tem mofo e marcas de infiltração.
Às 9h15 do domingo, o jornal “Extra de Alagoas” publicou em seu site uma reportagem afirmando que Collor estaria instalado na sala do diretor da penitenciária, Gilson Mendonça da Silva, adaptada para atender às recomendações do STF referente ao quesito “prisão especial”.
Pouco depois, às 11h30, o site apagou a matéria. Às 18h, a Secretaria de Estado da Ressocialização e Inclusão Social (Seris) negou a informação por mensagem de WhatsApp.
O histórico da penitenciária revela que a sala da direção já foi usada para abrigar presos especiais. Em 2015, o ex-promotor alagoano Carlos Fernando Barbosa, condenado a 76 anos de prisão por estupro de duas filhas e uma enteada, ficou duas semanas no gabinete até ser transferido para uma cela adaptada.
Segundo Vitor Leite da Silva, presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Estado de Alagoas (Sinasppen), pela manhã, Collor estava na ala especial. “No entanto, em se tratando de um ex-presidente da República com comorbidades, é possível que ele tenha ficado numa sala da diretoria por causa do ar-condicionado. (…) Os policiais penais estão receosos de passar informação oficialmente”, afirmou.
Collor recebe as três refeições servidas a todos os detentos: café da manhã com pão e café; almoço com arroz, feijão e frango (ou linguiça e peixe às sextas-feiras); e jantar leve, que pode ser cuscuz ou macaxeira com ovos. A comida é entregue pelos presos que trabalham na unidade. Familiares podem enviar alimentos industrializados, como bolachas e biscoitos, mas até domingo não havia registro de entregas feitas para o ex-presidente.
Segundo relatos de funcionários, Collor manteve postura cordial, conversou de forma cortês com os policiais plantonistas, mostrou-se ereto, sorridente e não demonstrava abatimento. Embora o uniforme obrigatório da penitenciária seja composto por camisa e bermuda vermelhas, ele passou o final de semana vestindo bermuda, camiseta e sandálias Havaianas.
Apesar das condições privilegiadas da ala especial, a Penitenciária Baldomero Cavalcante enfrenta superlotação grave. De acordo com a Seris, a unidade — projetada para 768 presos — abriga atualmente 1.321 detentos, sendo 1.213 condenados e 108 provisórios. A ala de Collor, com menos internos, apresenta melhores condições de limpeza e organização.
O histórico do presídio acende alertas: em dezembro de 2007, uma rebelião durou mais de cinco horas, destruiu quatro módulos e obrigou a transferência de 21 presos. Em janeiro de 2011, dois detentos morreram dias depois de denúncias de tortura praticadas por agentes.
Preocupados com a segurança e a saúde de Collor, seus advogados protocolaram no sábado um pedido de prisão domiciliar. Alegam que ele sofre de comorbidades graves, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia e histórico de câncer de pele, que poderiam se agravar no ambiente prisional. O pedido será analisado pela PGR. Apesar disso, policiais penais relataram que o ex-presidente aparenta boa saúde. As informações são do jornal O Globo.