Segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de outubro de 2025
No dia 21 de outubro de 2025, completa-se um século desde a morte do Coronel Affonso Emílio Massot. Basta evocar seu nome para que algo se ilumine na história da gloriosa Brigada Militar.
Mais do que um comandante, Massot foi um alicerce, e não apenas no sentido simbólico. Edificou instituições, estruturou serviços, consolidou ritos, valores e ideias que permanecem vivos até hoje. Lembrar Massot não é um ato de saudosismo, mas um gesto de reconhecimento àquele que forjou, com rigor e propósito, as bases de uma força que ainda se sustenta sobre os pilares que ele ergueu.
Nascido em Pelotas, em 16 de outubro de 1865, Massot ingressou na Brigada Militar em 1892, já nomeado Capitão, assumindo o comando de uma companhia do 1º Batalhão de Infantaria da Reserva. No ano seguinte, mergulhou nos combates da Revolução Federalista. Lutou em Salsinho, Upamaroti e no célebre Sítio de Bagé, onde foi gravemente ferido no peito.
Recuperado, recusou o afastamento e também a promoção a Coronel do Exército, oferecida em reconhecimento pelo feito, por entender que a hierarquia interna da Brigada não admitia avanço fora da ordem natural. Voltou à frente de batalha e permaneceu até o fim do conflito, em 1895.
Em 1917, foi efetivado como Comandante-Geral da Brigada Militar, o primeiro a alcançar o posto vindo da própria tropa. Moldou a Brigada à imagem da instituição que idealizava: forte, instruída, disciplinada e justa. Criou o Curso de Ensino, implantou o Serviço de Aviação com aviões próprios e campo de pouso, e promoveu inovações que projetaram a Brigada para o futuro.
Mas talvez sua contribuição mais duradoura tenha sido a fundação da Justiça Militar Estadual. Com base na Lei Federal nº 3.351, de 1917, e no Decreto nº 2.347-A, de 1918, instituiu-se o Conselho de Apelação da Brigada Militar, primeira instância superior de julgamento de delitos militares cometidos por oficiais e praças. Massot presidiu o colegiado desde sua primeira sessão, em 10 de julho de 1918, até o último ano de sua vida.
Em 1953, pelo Decreto Estadual nº 4.221, foi oficialmente declarado Patrono da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Não se tratava de mero gesto simbólico, mas de um reconhecimento justo e necessário. O Patrono é aquele que inspira, e Massot inspira.
Deixou valores que orientaram gerações, normas que se anteciparam ao tempo e um exemplo de liderança que resistiu à erosão dos anos.
Cem anos após sua morte, o Coronel Massot permanece como uma presença silenciosa, porém imensa, nas instituições que ajudou a erguer.
Recordá-lo neste centenário não é apenas um exercício de memória. É um acerto de contas com a história. E, para quem ama a Brigada Militar, é também um gesto de gratidão.
Ave, Massot. Sentinela do tempo. Fundador de pilares. Patrono de todos nós.
(Paulo Roberto Mendes Rodrigues é coronel e desembargador militar – Ex-Comandante-Geral da Brigada Militar)