Segunda-feira, 12 de maio de 2025

Chamado de “idiota” pelo presidente Trump, o chefe do banco central norte-americano não se abala e não baixaos juros

Sem surpresa, o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, manteve os juros básicos da economia americana entre 4,25% e 4,5% em sua mais recente reunião de política monetária. A incerteza gerada pelo tarifaço do presidente Donald Trump aumenta os riscos de inflação e de desemprego, destacou o Fed.

Também não surpreendeu a reação de Trump ao anúncio. “Idiota”, disparou o republicano contra o presidente do Fed, Jerome Powell, a quem Trump vem destinando artilharia pesada na atual gestão.

Na visão delirante do republicano, a inflação nos EUA é “virtualmente” inexistente, o que é facilmente contestado pelos dados. Em março, a inflação anualizada foi de 2,4%, acima da meta de 2% que o Fed, que tem o mandato duplo de buscar pleno emprego combinado com estabilidade de preços, persegue.

Trump também alega que as tarifas que ele impôs ao mundo já estão inundando o país de recursos, que os preços estão em queda nos EUA e que Powell demora demais para cortar os juros.

O fato é que as tarifas realmente justificam juros mais baixos – mas na arqui-inimiga China. O BC chinês acaba de anunciar uma redução da taxa de depósitos compulsórios dos bancos para aumentar a liquidez do sistema financeiro, além de ter cortado juros de curto prazo para lidar com o impacto econômico do tarifaço de 145% que Trump impôs sobre os produtos chineses.

Ou seja, Trump está forçando a rival China a reduzir os juros, enquanto internamente o efeito imediato de sua guerra comercial sem qualquer fundamento é mais pressão inflacionária. Logo, não há nenhum motivo para que o Fed, ademais independente, corte juros, como vem insistindo Trump.

Inflacionário no curto prazo e recessivo no longo, o caos tarifário imposto por Trump deve sim levar o Fed a cortar os juros no segundo trimestre, mas pelo pior motivo possível: combater a recessão que se avizinha.

Instituições financeiras como o J.P. Morgan estimam em 60% a probabilidade de recessão nos EUA no final deste ano, uma consequência direta do desarranjo econômico provocado pelas tarifas. O banco também entende que o Fed passará a cortar os juros só a partir de setembro – a próxima reunião da autoridade monetária norte-americana está agendada para junho.

Estimativas e previsões sempre podem mudar, já que eventos geopolíticos e fenômenos naturais costumam surpreender. Mas, nas atuais condições de temperatura e pressão, Trump pode esbravejar o quanto quiser contra Powell, que vem apenas e tão somente fazendo o trabalho que lhe compete.

É digno de nota, contudo, que o presidente do Fed, diante dos inúmeros ataques destemperados que vem sofrendo, não caia nas provocações de Trump. Quando é questionado sobre os insultos que recebe do presidente, Powell foge da personalização assegurando que as decisões do Fed baseiam-se nos dados, na perspectiva econômica e no balanço de riscos.

Pode parecer pouco, mas em um governo que já prendeu até juízes, fazer o trabalho que deve ser feito, em vez de atender a caprichos presidenciais, é quase heroico.

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