Quarta-feira, 10 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de setembro de 2025
O lançamento do GPT-5 trouxe avanços técnicos, mas não o impacto transformador que parte dos usuários aguardava. A expectativa criada ao longo de meses era de uma revolução no uso da inteligência artificial mais popular do mundo, utilizada por cerca de 700 milhões de pessoas semanalmente. Quando a OpenAI apresentou oficialmente o novo modelo, na última semana, ficou claro que a evolução foi mais gradual do que disruptiva.
Entre os pontos positivos, o GPT-5 se mostrou mais rápido, com maior precisão em respostas complexas e menor propensão a “alucinações” – quando a IA apresenta informações erradas de forma convincente. Ainda assim, a promessa de uma superinteligência não se concretizou.
A própria empresa alimentou a expectativa. Dias antes do anúncio, Sam Altman, CEO da OpenAI, publicou nas redes sociais uma imagem da Estrela da Morte, de Star Wars, gerando especulações de que a novidade seria avassaladora. No entanto, quando a atualização chegou, nada próximo de uma “explosão” ocorreu. O GPT-5 foi liberado para todos os usuários, pagos e gratuitos, mas as reações negativas surgiram rapidamente.
Reação imediata
O descontentamento se concentrou em duas frentes. Primeiro, a OpenAI eliminou a possibilidade de escolher manualmente entre diferentes modelos, como GPT-4o e o3. No lugar, implantou um sistema automático que seleciona qual versão seria usada em cada interação, equilibrando custo e desempenho. Na prática, porém, usuários perceberam quedas na qualidade das respostas, já que tarefas que exigiam mais raciocínio passaram a ser resolvidas por versões mais simples.
Além disso, houve queixas sobre a “perda de personalidade” das respostas. Muitos afirmaram que a ferramenta se tornou mais impessoal, a ponto de alguns lamentarem a perda do que chamavam de “melhor amigo virtual”. A pressão foi tamanha que Altman, em uma sessão de perguntas e respostas, anunciou a reativação temporária do GPT-4o para assinantes pagos.
Cleber Zanchettin, professor associado do Centro de Informática da UFPE, avalia que a forma como a mudança foi conduzida contribuiu para a frustração: “O fim das opções de modelo foi abrupto. Isso gerou resistência, mas também mostra que a empresa precisará rever estratégias de transição”. Para ele, a expectativa inflada pela OpenAI tornou inevitável a sensação de decepção.
Melhorias e novas funções
Apesar da turbulência, o GPT-5 apresenta avanços. Dados da empresa apontam que, quando conectado à internet, o modelo erra 45% menos que o GPT-4o e 80% menos que o o3 em tarefas complexas. Também recebeu ajustes de segurança para lidar com temas sensíveis e passou a oferecer quatro “personalidades” distintas, capazes de adaptar o tom das respostas.
Na produção de texto, a promessa é de maior expressividade e ritmo mais natural. No campo da programação, desenvolvedores destacaram a evolução: em demonstrações, o GPT-5 conseguiu gerar sites completos e até jogos simples a partir de comandos únicos. Outro ponto é a velocidade: a espera por respostas longas e complexas foi reduzida.
A OpenAI ainda ressaltou melhorias em áreas específicas, como saúde. Segundo a empresa, o GPT-5 oferece maior confiabilidade em respostas sobre o tema, algo que pode ampliar o alcance da ferramenta entre usuários comuns.
Entre expectativa e realidade
O episódio mostra como o peso da expectativa pode influenciar a percepção do público. O lançamento foi marcado por ruído e críticas, mas também reforçou a capacidade da OpenAI de ajustar rapidamente suas decisões diante da pressão dos usuários. “No fim, eles transformaram a irritação dos usuários em um processo de testes. Isso deve render correções importantes no futuro”, avalia Zanchettin.
Se não entregou a “Estrela da Morte” prometida nas entrelinhas, o GPT-5 ao menos consolidou avanços técnicos importantes. Ainda longe de uma superinteligência, mas mais rápido, seguro e com menor propensão a erros, o modelo mostra que a evolução da inteligência artificial pode ser menos espetacular, mas igualmente relevante para o uso cotidiano.