Domingo, 09 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 2 de maio de 2023
Instigadas pela ênfase que o presidente da China, Xi Jinping, dá à segurança nacional, nos últimos meses autoridades restringiram ou cortaram completamente os acessos feitos do exterior a vários bancos de dados que envolvem informações de registro de empresas, patentes, documentos de aquisição, revistas acadêmicas e anuários estatísticos oficiais.
Depois da ampliação recente da lei antiespionagem no país asiático, destinada a combater ameaças estrangeiras percebidas, muitos think tanks estrangeiros, empresas de pesquisas e outras entidades não financeiras descobriram que não conseguem renovar suas assinaturas do Wind Information.
Um representante do serviço de banco de dados informou, em uma resposta por e-mail, que os clientes que quiserem renovar seus contratos precisam entrar em contato com seus gerentes de conta. O representante não deu nenhum detalhe a mais.
O aumento das restrições à informação se dá no momento em que Pequim embarcou em uma campanha para fiscalizar e pressionar consultores de empresas, auditores e outros prestadores de serviços ocidentais de que as empresas multinacionais se valem para avaliar riscos na China.
Essa abordagem dupla faz parte de uma iniciativa mais ampla para reforçar o controle do Partido Comunista chinês sobre a maneira como o resto do mundo forma suas opiniões sobre a China, segundo executivos de empresas que consultaram autoridades chinesas. Segundo eles, é também uma ofensiva para isolar a China de influências estrangeiras.
A ofensiva abrangente da China tem alarmado empresas e investidores estrangeiros que já têm de lidar com os riscos geopolíticos mais altos associados a seus investimentos no país. Vem em um momento em que as empresas americanas e estrangeiras precisam de mais informações para navegar no ambiente de negócios cada vez mais complexo da China, em parte por causa das sanções dos EUA a centenas de entidades chinesas e das medidas retaliatórias que Pequim adotou como resposta.
Tensão
O agravamento das relações entre os EUA e a China já levou muitos executivos de alto escalão a pensarem na possibilidade de transferir algumas operações de suas empresas para fora da China ou em outras maneiras de reduzir sua exposição à China.
“Quanto mais o governo dificultar a compreensão sobre a China, menos atrativo será o mercado chinês para o capital, em especial em relação a compromissos de longo prazo”, disse Gary Rieschel, capitalista de risco que investe na China há mais de 30 anos.
Em um comunicado sobre o clima da China para os investimentos, a Câmara de Comércio dos EUA, o maior grupo de lobby empresarial americano, destacou o escrutínio mais intenso do governo chinês sobre as empresas de serviços profissionais que as multinacionais usam para fazer avaliação de risco. A Câmara advertiu que essa ação “aumenta de forma dramática as incertezas e os riscos de fazer negócios” na China.
Para executivos estrangeiros na China as recentes detenções e a intensidade geral da campanha em curso têm sido notáveis, em especial porque a ofensiva foi acompanhada de restrições ao acesso a bancos de dados como o Wind.
“Por motivos de segurança nacional, o acesso externo a vários bancos de dados foi restringido”, disse Gerard DiPippo, especialista em China do Center for Strategic and International Studies, instituição de análise e pesquisa de Washington. “O efeito será menos o de melhorar a segurança nacional da China e mais o de isolar a China dos pesquisadores do exterior que tentam entender o país.”
Confiança
A campanha sinaliza que Pequim se sente confiante de que as empresas dependem demais da China para pegarem as coisas e irem embora. Muitas estrangeiras ainda veem a China como um mercado essencial, e companhias como as que vendem para os consumidores chineses tentaram aumentar sua presença no país neste momento, com o fim das restrições ligadas à pandemia. Uma série de altos executivos estrangeiros visitaram o país nos últimos meses, para contatar os escritórios locais e participar de simpósios promovidos com apoio do governo.
Mas recentes pesquisas mostram também que aumentou o número de empresas americanas e europeias que estão mudando as prioridades em favor de países que não a China ao tomar suas decisões de investimentos.