Terça-feira, 22 de abril de 2025

China: as múltiplas crises que afastam investidores do país em ritmo recorde

O investimento estrangeiro foi um dos pilares do “milagre econômico” na China, país que em quatro décadas tirou 850 milhões de pessoas da pobreza.

Após a morte de Mao Tsé-tung em 1976, o comunismo mais ortodoxo deu lugar a uma abordagem pragmática do desenvolvimento econômico e, três anos depois, o país abriu suas portas ao investimento estrangeiro.

Nas décadas seguintes, a entrada de capitais cresceu exponencialmente, com o PIB chinês expandindo a uma taxa média superior a 9% ao ano. Mas agora essa tendência de longo prazo começou a se reverter.

O investimento estrangeiro na China vem despencando desde o início deste ano, especialmente desde a invasão russa da Ucrânia.

Somente entre janeiro e março, investidores estrangeiros retiraram cerca de US$ 150 bilhões (cerca de R$ 760 bilhões) em ativos financeiros em yuan, principalmente em títulos.

“Embora a China tenha registrado entradas (de capitais) em janeiro, as saídas de fevereiro e março foram tão grandes que tornaram o primeiro trimestre o pior já registrado. A fuga continuou em abril”, indica o relatório de maio do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).

A entidade com sede em Washington prevê uma saída de ativos da China de US$ 300 bilhões este ano, mais que o dobro dos US$ 129 bilhões em 2021.

Analisamos quais são as quatro principais causas desta tendência, se ela veio para ficar, que consequências terá e como as autoridades chinesas estão reagindo.

1. A estratégia “covid zero” – “As políticas de ‘covid zero’ estão levando a China a uma contração semelhante à da primeira onda da pandemia”, disse o economista espanhol Juan Ramón Rallo.

Mais de dois anos após o início da pandemia, a maioria dos países retirou as restrições devido à covid. Mas na China é diferente.

Pequim, que antes sempre priorizava o crescimento econômico acima de tudo, desta vez colocou isso de lado para evitar uma possível crise de saúde, apesar de a maioria de sua população estar vacinada.

Assim, o desemprego nas cidades ultrapassou 6%, sua economia contraiu 0,68% em abril e poucos acreditam que a China atingirá a meta de crescimento para este ano de 5,5%, número que já é discreto em relação aos anos anteriores.

2. A crise imobiliária – A construção de casas tem sido um dos motores de crescimento da economia chinesa nas últimas décadas. No entanto, o setor está em crise desde o ano passado devido ao forte endividamento das gigantes locais, como a Evergrande.

Embora a crise imobiliária na China venha de antes, os temores dos investidores estrangeiros sobre suas consequências na saúde econômica do país em combinação com os efeitos do “covid zero” e outros fatores são mais recentes.

Conscientes deste problema, as autoridades chinesas tomaram algumas medidas para revitalizar o mercado imobiliário, incluindo vários cortes nas taxas de juro do financiamento habitacional através de decreto do banco central do país.

3. Rússia, tensões geopolíticas e direitos humanos – A invasão da Ucrânia custou à Rússia o isolamento econômico do Ocidente com sanções de magnitude que ninguém imaginaria para um país tão importante.

A guerra levou muitos investidores a se perguntarem o que aconteceria com seus ativos na China se Xi Jinping lançasse uma operação militar em Taiwan, reprimisse um levante popular em Hong Kong pela força ou decidisse resolver disputas territoriais com vizinhos pela força das armas.

A posição da China no conflito ucraniano — mais próxima da Rússia — também não ajuda.

4. A ofensiva contra o setor privado – Tanto o “milagre econômico” chinês quanto a avalanche de fluxos de capital que em grande parte o tornaram possível vieram junto com reformas voltadas para o livre mercado e o desenvolvimento de empresas privadas. No entanto, observa Nick Marro, “muito da agenda de reformas que poderia beneficiar tanto as empresas privadas estrangeiras quanto as locais estagnou”.

A tendência recente de protecionismo e intervenção acontece em vários setores, mas sobretudo na tecnologia, “onde as preocupações de segurança nacional superam todo o resto”, diz.

O exemplo mais claro é a ofensiva iniciada em 2021 contra as grandes empresas de tecnologia chinesas, que os críticos atribuem à vontade do Estado de controlar o setor. Isso afetou o valor de empresas de renome mundial, incluindo o Alibaba.

A corporação do bilionário Jack Ma foi uma das mais atingidas pela campanha regulatória de Pequim, que em abril do ano passado impôs a maior multa antitruste da história do país, no valor de cerca de US$ 2,8 bilhões.

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