Segunda-feira, 30 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de junho de 2025
O cientista político Christopher Garman tem um retrospecto respeitável em suas previsões. Diretor-executivo para as Américas da Eurasia, uma consultoria americana especializada na avaliação de riscos políticos, ele foi um dos poucos entre seus pares a afirmar, em meados de 2018, seis meses antes das eleições, que o então candidato Jair Bolsonaro tinha grandes chances de ir para o segundo turno e vencer o pleito.
No fim de 2014, logo depois da reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff, Garman antecipou que ela corria o risco de ser atingida ´por uma “tempestade perfeita”, formada por um governo sem sustentação política e baixa credibilidade no mercado, pela descoberta de um escândalo de corrupção bilionário como o petrolão e por uma economia que mergulhava na recessão. Dois anos depois, com o impeachment de Dilma, seu diagnóstico se mostrou certeiro outra vez.
Ao contrário de muitos analistas, Garman diz que, mesmo se a direita não marchar unida já no primeiro turno da disputa, terá chances de vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua provável tentativa de reeleição.
Confira abaixo trechos da entrevista de Christopher Garman ao Estado de S. Paulo:
Cenário incerto
“Pelo quadro atual, parece que vai ser uma eleição difícil de prever o resultado. A aprovação do presidente Lula caiu de forma expressiva, de 49% para 41/42% do total, mas não está tão claro que estamos caminhando para uma eleição de mudança. Ao analisar um banco de dados com informações de 500 eleições realizadas pelo mundo afora, o que a gente observa é que os incumbentes geralmente têm uma taxa de reeleição acima de 50% quando a aprovação está acima de 40%. No fim do ano passado, com a alta nos preços dos alimentos, houve uma queda na aprovação do presidente, mas depois o governo começou a se recuperar em algumas pesquisas. Aí veio o escândalo do INSS e a aprovação voltou a cair. Então, hoje, no Brasil, estamos bem naquele ponto em que o incumbente pode ou não se reeleger”.
Alternativa a Bolsonaro
“Há certa ansiedade da oposição em relação a isso. Boa parte desse esforço, colocado como uma agenda para o País, tem se concentrado em torno do nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Existe um esforço também para tentar convencer o ex-presidente Jair Bolsonaro a endossá-lo. O ex-presidente ainda detém um capital político expressivo e permanece como o grande líder da oposição. Ele tem uma base razoavelmente fiel e as pesquisas mostram que o índice de aprovação dele não caiu um triz desde a última eleição presidencial. Todos os atores sabem que qualquer nome que ele endossar já começa com uma base de apoio popular considerável, provavelmente na casa de 20 pontos porcentuais. Então, a escolha que o Bolsonaro fizer até março do ano que vem, antes da data de desincompatibilização de governadores de Estado que quiserem participar das eleições, é que vai definir o xadrez oposicionista. O grande protagonista que vai definir se a direita estará unificada ou não encontra-se na figura do ex-presidente. Em inglês, a gente diria que ele é o kingmaker, o ‘fazedor de reis’, porque vai depender dele como será o jogo eleitoral”.
Direita fragmentada
Acredito que a percepção de que essa eventual fragmentação no primeiro turno diminuiria as chances de uma vitória oposicionista nas eleições está muito exagerada. Eu escuto muito, quase como um mantra, que se o governador de São Paulo encabeçar uma direita consolidada, unificada, a oposição vai ganhar em 2026. E que, se a direita estiver fragmentada, com possibilidade elevada de um nome do Bolsonaro chegar ao segundo turno, as chances do Lula prevalecer cresceriam bastante. Este diagnóstico me parece exagerado. Mesmo se a gente tiver uma direita fragmentada, ainda haverá muito tempo numa disputa presidencial para poder trabalhar qualquer nome da oposição que chegue ao segundo turno.
Terceira via
“Acho bem difícil que uma candidatura que se posicione contra esses dois polos seja bem-sucedida. É possível que ela possa prosperar, mas, num ambiente carregado, de um país dividido, um discurso de centro é mais difícil de vingar, embora o governador Eduardo Leite tenha sido muito bem-sucedido no Rio Grande do Sul. Ele acredita que existe um caminho para poder perseguir uma candidatura alternativa, a despeito desse país dividido, mas seu primeiro desafio será superar a escolha dentro do seu novo partido. E aqui, mais uma vez, me parece que o governador do Paraná tem uma vantagem nessa escolha”. Com informações de O Estado de S. Paulo