Quarta-feira, 25 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de junho de 2025
O filósofo inglês Thomas Hobbes, do século XVII, escreveu em “Leviatã” que, sem leis e autoridades, o homem vive em estado de guerra constante, onde a vida é “solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”.
Esse pensamento atravessa os séculos e ainda serve como espinha dorsal para refletirmos sobre os tempos em que vivemos, nesta sociedade contemporânea.
Volta e meia, escuto ecos modernos — ou apenas reembalados — de velhas utopias: “o sistema é opressor”; “as leis foram feitas para nos controlar”; “o caos é libertador”; “os ricos devem dividir com os pobres”. E por aí vai…
Há quem defenda a anarquia como expressão máxima da liberdade. Mas liberdade sem limites é só um eufemismo para quem perdeu o senso do coletivo e acredita que viver à beira do precipício é prova de coragem.
Afinal, o que impede alguém — talvez até mesmo teu vizinho — de invadir tua casa, tomar teu carro, mexer com tua mulher ou tua filha? É a bondade humana? A ética? Talvez, em raros casos, possa ser isso…
Mas sejamos honestos: o que realmente segura a maldade humana não é a consciência, é a consequência.
Vivemos sob o império da lei não porque somos virtuosos, mas justamente porque não somos. A lei não reflete nossa bondade: é o escudo contra nossa selvageria.
Regras não são grades, são pontes. E sem pontes, não há travessia possível para a civilização.
Imagine uma cidade onde ninguém para no sinal vermelho porque “ninguém manda em mim”; onde contratos são piadas e papéis rasgados porque “papel não tem moral”; onde quem sente fome se sente autorizado a roubar, e quem sente raiva, a matar.
Nesse mundo, os mais fortes dominam, os mais espertos exploram — e os justos viram alvo.
Há quem confunda código de conduta com opressão e ordem com repressão. Mas a verdadeira liberdade floresce justamente quando há limites claros que contenham o caos.
A vida em sociedade é um pacto tácito: eu abro mão de fazer apenas o que me agrada — como sentar no assento da janela — para que você também possa usufruir desse direito, especialmente se for mais velho, mais frágil ou mais necessitado.
Na natureza, sobrevive o mais forte e adaptado. Na sociedade, sobrevive o mais inteligente e determinado.
Sim, há leis injustas, sistemas falhos e poderes corrompidos. Mas é dentro das instituições — não fora delas — que corrigimos os erros.
Derrubar a casa porque a tinta descascou não é revolução, é ignorância. E, se ainda resta dúvida, basta lembrar da lei maior do universo: a lei de causa e efeito.
Quem planta vento, colhe tempestade. Quem desrespeita o próximo será, mais cedo ou mais tarde, o próximo a ser desrespeitado.
Então, a pergunta que fica é simples, mas profunda: se a lei deixasse de existir hoje, você continuaria sendo honesto?
Alguns sociólogos, com discursos ensaboados de compaixão seletiva, justificam o crime em nome da fome, da desigualdade social e ainda classificam isso como “resistência”.
Mas onde termina a necessidade e começa a desculpa? A honestidade é um dom natural ou uma disciplina social? Talvez as duas coisas. E isso não é fraqueza. É sabedoria.
Porque o justo de verdade não é o que nunca teve oportunidade de errar, mas o que escolhe o certo mesmo quando ninguém está olhando. Porque entendeu que liberdade sem responsabilidade é só selvageria, com perfume ideológico.
E, no fim, é isso que separa a civilização da barbárie. Não é a força. Não é o dinheiro. É a escolha.A escolha que cada um de nós faz — todos os dias — diante de situações em que ninguém nos observa, mas a consciência, sim.
No fundo, todo mundo sabe o que é realmente justo e honesto. A resposta está no coração — é só ter coragem de ouvi-lo.
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho