Segunda-feira, 09 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 8 de junho de 2025
Da van que levaria parte da comitiva de Luiz Inácio Lula da Silva para o segundo compromisso do dia em Araucária (PR), ministros se entreolhavam diante dos gritos que vinham de fora. Titular da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD) havia se aproximado para pedir ao chefe da Casa Civil, Rui Costa, que tentasse encaixar na agenda do presidente um encontro com representantes do agronegócio gaúcho. A viagem do grupo terminaria no dia seguinte, justamente em Porto Alegre (RS). Era agosto de 2024, e o setor estava angustiado diante dos prejuízos causados pelas enchentes no estado. Costa, que entrava na van, mal quis parar para ouvir. Deu um fora no colega, explicitando que nada faria e despachou Fávaro.
— Vai pra puta que pariu, Rui! Vai falar assim com outro. Não sou seu peão, não! — estourou Fávaro, dando as costas.
O jeito ríspido de Rui já era conhecido. Transcorrida quase metade do governo, o chefe da Casa Civil Rui ganhava influência junto a Lula na mesma velocidade com que colecionava desafetos. Em pouco tempo, passou a ser uma das figuras mais antipatizadas de Brasília. Na sala de situação montada meses antes para acompanhar os esforços de reconstrução do Rio Grande do Sul, toda semana a lista de descontentes crescia. A irritação de Rui já havia recaído sobre ministros como Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Carlos Lupi (então na Previdência) e o próprio Fávaro, que em frente à van no Paraná chegara, enfim, ao seu limite. Segundo colegas de ambos, o número de telefone de Rui, dali em diante, permaneceria bloqueado no WhatsApp do ministro da Agricultura.
— Minha função é traduzir o desejo do presidente e, às vezes, em tom de cobrança, porque tenho que preservá-lo. Se alguém tem que ser mais duro, sou eu. Quem tem que se desgastar para a máquina andar, não é o presidente. Ele tem que estar sempre alegre, sorrindo e feliz — disse Rui Costa em seu amplo gabinete, no quarto andar do Palácio do Planalto.
Escalado por Lula para tocar a Casa Civil, o coração do governo, o ex-governador da Bahia levou a Brasília a maneira de fazer política que o transformou num fenômeno eleitoral inconteste, dono da maior votação nominal já registrada no Estado. O “Rui Correria”, como ficou conhecido entre os baianos, era o homem da “gestão”, das “obras”, da “conversa direta”. Em seu estado, no entanto, ele chefiava seus próprios secretários. Na capital, passara a ser um de 37 ministros de Lula, um grupo que incluía quatro ex-candidatos à Presidência da República e outros sete ex-governadores como ele. Em Brasília, a aspereza no trato o fez virar em pouco tempo o “Rui Grosseria” aos olhos de seus pares.
Uma das primeiras medidas de Rui foi sacar o “chefe” do título de seu cargo, que, antes, era “ministro-chefe” da Casa Civil. Não colou.
— A Casa Civil exige um maestro e não um xerife. Chefe mesmo só o presidente, mas ele (Rui Costa) trata os outros ministros como se chefe deles fosse — resume um colega da ala dos descontentes.
A frequência com que, sem cerimônia, deixava colegas esperando na antessala de seu gabinete cristalizou entre ministros, logo na largada do governo, a ideia de que Rui os tratava com desdém. Os atrasos irritavam chefes de outras pastas, com agendas igualmente repletas de compromissos.
Em março de 2023, o governo corria para amarrar os últimos detalhes do novo arcabouço fiscal, que permitiria Lula cumprir a promessa de derrubar o teto de gastos, quando o chefe da equipe econômica, Fernando Haddad, deu-se conta de que estava a 45 minutos aguardando a chegada do ministro da Casa Civil para uma reunião. Deixou então o Planalto, assustando parte de sua equipe, que só previa seu retorno horas mais tarde.
— Olha, não tenho tempo para ficar esperando Rui Costa aparecer. Tenha paciência — disse Haddad, contrariado, ao entrar na Fazenda.
Não era pessoal. O mesmo expediente, tempos depois, levaria o então novo titular da Justiça, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, e o ministro da Defesa, José Múcio, a combinarem de deixar juntos uma reunião se houvesse chá de cadeira novamente. Rui não falhou e atrasou-se. Eles se retiraram.
A arte de não fazer muitos amigos pela Esplanada também foi exercitada por Rui dentro do Planalto nos primeiros dias do governo. O ministro entrou em rota de colisão com a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, ao manifestar-se contra a compra de móveis escolhidos por ela para redecorar o Palácio do Alvorada, a residência oficial da Presidência. Em sua avaliação, o custo elevado colocaria o governo na mira dos críticos — o que, de fato, aconteceu.
“Minha função é traduzir o desejo do presidente e, às vezes, em tom de cobrança, porque tenho que preservá-lo. Se alguém tem que ser mais duro, sou eu. ” Rui Costa, sobre a fama de ‘xerife’ que adquiriu mesmo diante dos colegas de Esplanada. As informações são do portal O Globo.