Domingo, 16 de março de 2025

Com crise e juros em alta, consórcios já viabilizam obras e festas

Clássico dos tempos de crise, quando renda em baixa e juros em alta dificultam o acesso ao crédito, um velho conhecido volta a crescer como saída para o consumo. Há 60 anos no mercado brasileiro, o consórcio atrai mais cotistas este ano, mas não é mais o mesmo.

Está repaginado pelas inovações tecnológicas das fintechs, as start-ups financeiras, e viabiliza a aquisição de uma gama cada vez mais variada de bens — para além dos tradicionais imóveis e veículos — e também de serviços, de viagens a reformas residenciais.

Segundo a Associação Brasileira das Administradoras de Consórcio (Abac), as vendas de novas cotas subiram 12% no primeiro trimestre deste ano, para 886,3 mil, em comparação com o mesmo período de 2021. Os negócios somaram R$ 55,2 bilhões no período, avanço de 15,3%. Em março, o número de participantes ativos em consórcios chegou a 8,5 milhões.

Entre eles estão Luiz Henrique Fantini e Stefania de Albuquerque, de São Paulo. Após intensa pesquisa de condições de crédito para ajudar a pagar as despesas do casamento, Fantini, de 36 anos, acabou fazendo a primeira incursão no mundo dos consórcios, por meio de uma fintech que descobriu na internet.

A operação foi 100% digital, e o casal foi contemplado no sétimo mês após um lance. E enfim o casório foi marcado para outubro.

“Estudei muito e fiz várias simulações até fechar. Achei interessante o consórcio pela possibilidade de alavancar e diluir as parcelas no longo prazo. Acabei fazendo alguns lances desde o começo, mas com valores baixos, até que fui contemplado”, conta Fantini, que já pensa em um novo consórcio para o primeiro apartamento do casal.

O consórcio tem um ar de passado, mas agora se moderniza para atrair o público jovem, que tem mais dificuldade de acessar crédito por vias tradicionais e que ainda não tinha experimentado.

Além do uso de tecnologias como inteligência artificial, há novos arranjos financeiros, como a possibilidade de cotas já pagas em um consórcio servirem de garantia para obter empréstimos em condições mais favoráveis ou funcionarem como uma forma de investimento.

Acesso mais fácil

A elevação da taxa básica de juros (Selic) nos últimos meses — atualmente está em 12,75% ao ano — tende a encarecer os financiamentos. Isso favorece os consórcios, mas não é o único fator. As operações automatizadas e mais simples que as de crédito ficam mais atraentes no atual contexto do mercado de trabalho.

“A grande maioria da população, principalmente os que estão na informalidade, não consegue comprovar renda e está fora do acesso a um financiamento. Quando a taxa de juros está baixa, há dificuldade de conseguir financiar porque o risco de crédito aumenta e são exigidas mais condições. E quando os juros sobem, fica inviável”, diz Marcelo Kogut, cofundador da start-up de consórcios Mycon, que criou com o irmão, Márcio Kogut, para modernizar o instrumento financeiro.

A Mycon usa inteligência artificial para vender os produtos sem a necessidade de intermediários, o que reduz a taxa de administração em comparação com bancos tradicionais. A contratação ocorre de forma totalmente digital.

O interessado informa coisas que está interessado em comprar e preenche um questionário para que se avalie sua capacidade de pagamento. A plataforma então mostra os planos de consórcio disponíveis sem comprometer mais do que 30% da renda mensal do cliente.

“Entendemos que, com o crescimento dos bancos digitais, não fazia mais sentido uma pessoa comprar um consórcio através do vendedor e pagar mais caro por isso. A pessoa compra de forma mais consciente”, diz Marcelo Kogut, destacando a média de cancelamentos equivalente a um quinto da do mercado.

Cerca de 70% dos clientes da Mycon têm entre 25 e 35 anos. A fintech Klubi, focada inicialmente em veículos, também oferece experiência 100% digital com foco nos jovens à margem dos bancos tradicionais. Pela plataforma, o usuário escolhe prazo e valor do que deseja viabilizar e faz simulações para descobrir o plano adequado. Ainda acompanha as informações do grupo ao qual se integrou.

As reuniões mensais são transmitidas no YouTube. Os integrantes recebem informações para ajudá-los na decisão de quando dar um lance (ofertar um valor maior que a mensalidade para ficar no lugar do sorteado), além de contar com especialistas pelo WhatsApp. Mensalidades começam em R$ 499.

Além dos tradicionais consórcios imobiliário e de veículos, outros sonhos de consumo ganham força, como serviços de alto custo. Segundo a Abac, esse segmento passou de 3,5 mil cotas ativas em 2009 para quase 190 mil em março deste ano.

Os consórcios relacionados a reformas residenciais são os mais procurados, representam 75,5% dos contratos envolvendo serviços. Na sequência, estão turismo e viagens (1,6%), saúde e estética (1,6%), consórcios na área de educação (0,5%) e festas e eventos (0,4%). Mais usos, como assessoria jurídica, informática, segurança, alarmes residenciais, entre outros, somaram 20,1% em março.

“O setor de serviços, até pela dinâmica da economia, vai ter um crescimento bastante relevante. Assim como os consórcios de bens de menor valor, como eletroeletrônicos”, diz o sócio-diretor da Consorciei, João Prado.

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