Domingo, 16 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 16 de novembro de 2025
Os bancos colocaram o pé no freio no crédito, que vinha em forte expansão, e as condições financeiras são hoje bem mais apertadas que as do início do ano. O maior risco é a inadimplência em alta, com o elevado e crescente comprometimento da renda com dívidas, no caso das pessoas físicas, e alta alavancagem no caso das pessoas jurídicas, como apontam o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre e a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito, divulgados pelo Banco Central (BC) nos últimos dias. Como tem sido habitual, não há risco neste ambiente para as instituições financeiras, que fizeram as provisões conservadoras para perdas esperadas ,estão adequadamente capitalizadas e não apresentam descasamento entre ativos e passivos.
O principal canal de transmissão da política monetária restritiva e os juros altos que a acompanham é o do crédito. Com a desaceleração do crédito amplo da economia, segundo o BC, o ritmo de expansão dos empréstimos no primeiro semestre se aproximou da tendência de longo prazo, isto é, o hiato do crédito diminuiu, invertendo uma tendência que persistia desde 2023. Esse hiato já é negativo para pessoas físicas e jurídicas, mas o crédito amplo ainda é positivo e está em expansão devido às captações no mercado de capitais, que ganhou relevo diante dos empréstimos bancários. Os títulos privados ainda avançam a um ritmo bem superior aos empréstimos bancários.
Esse retrato do primeiro trimestre se mantém no resto do ano, segundo a pesquisa de crédito, feita junto às instituições financeiras. Uma das conclusões é que as condições de oferta de crédito continuaram se deteriorando no terceiro trimestre e seguirão assim no quarto. A demanda por crédito, no entanto, continuou igual ou superior à do início do ano, mas não será atendida plenamente, porque o “nível de tolerância ao risco e à inadimplência piorou em todos os segmentos” e deve piorar mais no último trimestre do ano.
Assiste-se à intensificação dos efeitos do aperto monetário esboçados no primeiro semestre. O relatório de estabilidade apontou que na primeira metade do ano houve aumento dos ativos problemáticos em todas as modalidades de empréstimos, com exceção do financiamento imobiliário, impulsionados pela inadimplência. Segundo o BC, o aperto monetário não tinha ainda, no primeiro semestre, afetado de maneira significativa indicadores relevantes das empresas, como a relação entre dívida líquida e ebitda (endividamento em relação à capacidade de geração de receita) e o índice de cobertura de juros (recursos disponíveis em relação aos compromissos financeiros). No entanto, o BC vê sinais de alerta no crescimento das dívidas e de seu custo, que pesarão mais nos balanços à medida que a atividade econômica perde fôlego. Além disso, “ao avaliar as empresas como um todo, há um aumento da percepção entre as instituições do sistema financeiro de que o grau de alavancagem está elevado”, aponta a pesquisa.
No Relatório de Estabilidade, os ativos problemáticos (obrigações com atraso de pagamento de mais de 90 dias)constituem 14% do crédito às microempresas, 10% para as pequenas, 7% para as médias e 4% para as grandes. A probabilidade de default no estoque dos empréstimos revela que a inadimplência pode piorar, caso se mantenha apolítica monetária restritiva. A chance de falta de pagamento ronda 17% do total de empréstimos das pequenas empresas, 13% das médias e 5% das grandes.
Por isso, o crédito bancário já havia desacelerado para empresas de todos os portes, exceto as médias. O freio foimais forte para as grandes empresas, que, no entanto, supriram suas necessidades utilizando o mercado de capitaiscomo fonte de financiamento. Já o crédito bancário para as famílias apresentava perda de ritmo na margem ao fimdo primeiro semestre. A pesquisa das condições de crédito mostra que as restrições aumentaram nos mesessubsequentes devido ao nível de inadimplência do mercado. Para o fim do ano, as instituições financeiras esperamque comprometimento da renda e calotes continuarão estimulando um comportamento conservador nosempréstimos, que serão até certo ponto minorados pela concorrência entre bancos para captar novos clientes.
A conclusão do BC é que “o financiamento à economia real desacelerou, em linha com as condições financeiras mais restritivas e com a moderação no crescimento da atividade econômica”, como seria de esperar, aliás, com taxas de juros reais perto de 10%. Mesmo com aumento de renda e mercado de trabalho aquecido, o comprometimento da renda das famílias está em alta, enquanto juros altos para as empresas pesam proporcionalmente diante da tendência de queda das receitas. A inflação está declinando e só não o faz de forma mais rápida pela série de estímulos fiscais desnecessários para manter a economia em crescimento. Mantida por muito tempo, a carga de juros será insuportável para a dívida pública, e para os consumidores e empresas que dependem de crédito. Com informações do portal Valor Econômico.