Segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de novembro de 2025
As incertezas geradas pela dura política migratória do presidente americano, Donald Trump, têm sustentado o envio de remessas pessoais dos Estados Unidos para o Brasil no ano, na contramão do observado de outros países.
Em 2025 até setembro, as transferências pessoais totais do exterior para o Brasil somaram quase US$ 3,1 bilhões, recuo de 2,7% ante igual período de 2024 e em linha com o esperado em um cenário de real mais valorizado. Com o câmbio mais apreciado no Brasil, torna-se mais vantajoso mandar recursos para o exterior, enquanto o contrário compensa menos.
As remessas dos EUA para o Brasil, no entanto, estão subindo 2,8% de janeiro a setembro de 2025, na comparação com momento equivalente do ano passado, chegando perto de US$ 1,7 bilhão. Os dados são do Banco Central. A série com informações americanas começa em 2010. Desde 2011, apenas em 2013 e agora a variação das remessas do exterior para o Brasil e especificamente dos EUA para o país caminharam em sentidos opostos.
“As operações com os EUA realmente aumentaram”, diz Eduardo Campos, diretor de câmbio do Daycoval.“Conversando com parceiros lá fora, seja em meios digitais, seja no varejo físico, ambos percebem mudanças no comportamento dos clientes”, afirma.
No varejo físico, Campos diz que o número de transações diminuiu, mas o valor médio de cada transferência aumentou. “O tema da imigração fez com que diminuísse a frequência com que as pessoas visitam lojas de remessas, entendendo que o ponto físico pode ser um local de risco [de detenção]. Então, quando eles vão até lá, acabam fazendo operações maiores de uma vez.”
Já no meio digital, em função da volatilidade do câmbio, os clientes têm diminuído o valor médio e aumentado o número de transações, diz Campos. “Eles fazem três, quatro operações no mesmo dia, porque vão procurando a melhor taxa de momento e fazendo uma cotação média dentro do mesmo dia.”
Rodrigo de Godoi, presidente da Mantena Global Care, organização sem fins lucrativos que oferece apoio a imigrantes latino-americanos nos Estados Unidos, diz também ter percebido, desde o início do ano, a necessidade entre os brasileiros de buscarem formas de enviar mais recursos para fora.
“Quando anunciaram que poderiam cobrar tarifas [o governo dos imigrantes], multa por dia, muita gente que estava em situação de indocumentado achou formas de enviar esse dinheiro para o Brasil. Algumas pessoas até venderam bens que já possuíam no país”, conta Godoi. “Empresas brasileiras, inclusive, viram oportunidade e estão trabalhando para fazer esse envio de forma legal”, acrescenta.
Em Newark, cidade no Estado de Nova Jersey onde a comunidade brasileira é numerosa, ainda se utiliza bastante o envio de recursos via casas de remessas, segundo Godoi. “Mas também existem vários aplicativos que as pessoas acabam usando para transferir”, afirma.
Alguns economistas ponderam que a oscilação nas remessas dos EUA para o Brasil este ano está dentro de um desvio-padrão esperado. “Houve uma evolução forte depois da pandemia e está bem acomodado nos primeiros trimestres de 2025”, diz André Galhardo, economista-chefe na Análise Econômica e consultor econômico da Remessa Online. Com informações do portal Valor Econômico.