Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de novembro de 2025
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano fez o público majoritariamente jovem que participa da avaliação se debruçar sobre um tema universal, o envelhecimento, cujas implicações são bastante peculiares em países não plenamente desenvolvidos, como o nosso.
Por menos intuitivo que pareça, são justamente as pessoas de pouca idade as que mais devem refletir sobre “as perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, o oportuno tópico da redação do Enem 2025.
Se do ponto de vista populacional o Brasil está cada vez mais parecido com países desenvolvidos – taxa de fecundidade abaixo da taxa de reposição de 2,1 filhos por mulher, segundo o IBGE, e fatia crescente da população com mais de 60 anos –, as condições de vida dos mais velhos são, como se sabe, bastante distantes do ideal.
Além disso, as perspectivas são pouco ou nada animadoras. Com menos nascimentos e maior contingente de idosos, a já combalida Previdência Social é praticamente uma miragem para os alunos do ensino médio convidados a refletir sobre um futuro não tão distante.
Sem mais uma reforma significativa, a Previdência, nos moldes atuais, não se sustentará por muito tempo. E, por paradoxal que seja, o jovem de hoje, caso queira se aposentar no futuro, terá de trabalhar para além da idade mínima atual (62 anos para mulheres e 65 para homens).
A cultura da poupança, quase inexistente no País, também precisa evoluir, pois sem reserva de emergência a vulnerabilidade dos mais velhos só aumenta.
De acordo com dados compilados pelo especialista em políticas públicas Rogério Nagamine Costanzi, a taxa de poupança no Brasil em 2023 equivalia a 15% do PIB, patamar inferior ao de nações mais pobres como El Salvador (18,1%) e Paraguai (20,1%). Não à toa, de um total de 120 nações, o Brasil ocupa a 95.ª posição entre os que mais poupam.
Embora a tarefa de poupar mais seja imperativa independentemente da classe social, a maior disponibilidade de renda obviamente facilita a tarefa. Renda maior, contudo, costuma estar relacionada a educação de qualidade, área na qual o Brasil segue deixando a desejar. Ano após ano, avaliações nacionais e internacionais, como Ideb e Pisa, seguem atestando a miséria da educação brasileira.
Para piorar, o avanço tecnológico em países como China e EUA ameaça eliminar milhares de empregos mundo afora. Apesar de fascinantes, inovações como a Inteligência Artificial preocupam porque podem acabar até mesmo com funções costumeiramente ocupadas por profissionais altamente qualificados.
Neste contexto, a redação do Enem 2025 é mais do que uma avaliação que pode determinar em qual universidade o participante estudará. Ao propor que os candidatos dissertassem sobre os desafios do envelhecimento no Brasil, o exame pode ter sido a primeira oportunidade para que os jovens reflitam sobre uma realidade complexa para quem é idoso hoje e sombria para os que envelhecerão nas próximas décadas. Quem sabe ao trazer os jovens para esse importante e urgente debate, algo por fim comece a mudar. (Opinião/O Estado de S. Paulo)