Sábado, 04 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de outubro de 2025
A onda de intoxicações por metanol, que já chegou a 59 casos entre suspeitas e confirmações, jogou luz sobre um problema crescente no país: a expansão do mercado ilegal de bebidas. Dados reunidos pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) mostram que, entre 2020 e 2024, a quantidade de fábricas clandestinas interditadas por autoridades no país saltou de 12 para 80 — na média, é como se um espaço de produção irregular fosse fechado a cada cinco dias.
Após diversas mortes associadas à presença do solvente serem constatadas em São Paulo e Pernambuco nos últimos dias, a Câmara dos Deputados acelerou a tramitação de um projeto de lei que torna crime hediondo a adulteração de bebidas alcoólicas ou alimentos.
O “Anuário da falsificação”, publicado pela ABCF antes de a crise do metanol vir à tona, aponta ainda que 185 mil garrafas de bebidas alcoólicas adulteradas foram retiradas de circulação só nos oito primeiros meses de 2024.
A média, desta vez, é ainda mais impactante, com uma apreensão a cada período de menos de dois minutos. No caso dos destilados, que causaram as intoxicações recentes, entidades do setor calculam que mais de um terço (36%) do total comercializado no Brasil é falsificado.
“A única maneira de a gente dar um golpe forte no crime é combatendo a sonegação fiscal, a lavagem de dinheiro e a facilidade que tem hoje o crime organizado para obter insumos”, diz Rodolpho Ramazzini, diretor da ABCF, que cobra a retomada de um sistema de rastreamento descontinuado há quase uma década. “Dificultaria sobremaneira a produção, distribuição e entrada dessas bebidas ilegais, que podem inclusive estar contaminadas com metanol.”
O faturamento dos grupos criminosos envolvidos na produção clandestina é estimado em R$ 62 bilhões anuais. Também divulgado este ano, um relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) calcula que, entre 2016 e 2022, a quantidade de litros fabricados ilegalmente dobrou, passando de 128 milhões para 256 milhões.
“O País enfrenta dificuldades em termos de controle, ações fiscalizatórias e rastreamento. Somos um país gigante, com muita bebida circulando e sendo consumida”, frisa Nivio Nascimento, assessor de Relações Internacionais do FBSP, que coordenou o estudo. “A falsificação tem sido usada por diversas organizações criminosas, que exploram esse mercado trazendo diversos problemas, como essa intoxicação por metanol, mas também evasão de divisas, sonegação e outros.” (Com informações do jornal O Globo)