Segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de dezembro de 2025
Kayla consumiu fentanil pela primeira vez quando tinha 18 anos de idade. A então problemática jovem mora no Estado americano da Carolina do Norte.
“Literalmente, eu me senti incrível”, recorda ela. “As vozes na minha cabeça se calaram por completo. Fiquei imediatamente dependente.”
As pequenas pílulas azuis que causaram dependência em Kayla, provavelmente, foram fabricadas no México e contrabandeadas pela fronteira com os Estados Unidos. É a este comércio mortal que o presidente americano, Donald Trump, tenta pôr fim.
Mas os cartéis da droga não são compostos por farmacêuticos. Kayla nunca soube quanto fentanil continham os comprimidos que ela costumava tomar.
Teriam eles quantidade suficiente do opioide sintético para matá-la?
“Pensar nisso é assustador”, conta Kayla, imaginando como ela poderia ter sofrido uma overdose e morrer a qualquer momento.
Em 2023, houve mais de 110 mil mortes relacionadas às drogas nos Estados Unidos.
Na época, o avanço do fentanil (50 vezes mais potente que a heroína) parecia incontrolável. Até que ocorreu uma mudança surpreendente.
Em 2024, o número de mortes por overdose nos Estados Unidos caiu em cerca de 25%. Este índice representa quase 30 mil mortes a menos, ou dezenas de vidas salvas todos os dias.
E a Carolina do Norte, onde mora Kayla, está na vanguarda desta tendência.
Por que a queda tão brusca?
Um dos motivos que explicam a queda é o compromisso assumido para reduzir os danos causados pelas drogas.
Para isso, é preciso promover políticas que priorizem a saúde e o bem-estar dos usuários, em vez de criminalizar estas pessoas. É preciso reconhecer que, na era do fentanil, o consumo de drogas, muitas vezes, acaba em morte por overdose.
No Estado de Kayla, a Carolina do Norte, as mortes por overdose caíram em 35%. Ali, a estratégia de redução dos danos está bem desenvolvida.
Kayla deixou de consumir drogas ilícitas. Ela faz parte de um programa inovador de acompanhamento com assistência legal, conhecido como LEAD (“dirigir”), na sigla em inglês, na cidade de Fayetteville, no norte do Estado.
Este programa é uma colaboração entre a polícia da cidade e a Coalizão para a Redução de Danos da Carolina do Norte. Elas trabalham em conjunto para afastar os consumidores de drogas da criminalidade e encaminhá-los para recuperação.
“Se observarmos alguém roubando em um supermercado, verificamos seus antecedentes criminais”, explica o tenente Jamaal Littlejohn. “Frequentemente concluímos que os delitos que eles cometem parecem financiar sua dependência.”
Isso poderia transformá-los em candidatos para o programa LEAD. Nele, as pessoas conseguem apoio para enfrentar a dependência e iniciar o caminho para conseguir moradia e emprego com segurança.
Os defensores do programa LEAD afirmam que não se trata de indulgência com a criminalidade. Os narcotraficantes continuam indo para a prisão em Fayetteville.
“Mas, se conseguirmos com que as pessoas recebam os serviços necessários, as forças policiais terão mais tempo para lidar com delitos maiores”, defende o tenente Littlejohn. Ele testemunhou a luta da sua própria irmã contra o consumo de substâncias. Com informações do portal BBC News.