Terça-feira, 28 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de março de 2024
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres foi questionado pela Polícia Federal (PF), num depoimento prestado em 22 de fevereiro, sobre suas eloquentes falas na reunião em de 5 de julho de 2022, antes das eleições presidenciais, em que incentivou ações de ministros de Jair Bolsonaro a favor da reeleição do ex-presidente.
As declarações daquela época, registradas em vídeo, vieram à tona com a investigação da PF sobre uma tentativa de golpe ao fim do mandato de Bolsonaro. Disse Torres aos pares na ocasião:
“Senhores, todos vamos se foder! (…). Eu já sei como eles (do PT) vão trabalhar no âmbito da Polícia Federal.”
Torres foi cobrado pelos agentes da PF a explicar as declarações, no mês passado. De maneira muito mais polida, minimizou qualquer desconfiança em relação ao trabalho da corporação, responsável por prendê-lo após os atos golpistas de 8 de janeiro (ele estava fora do Brasil enquanto o Distrito Federal, de onde era Secretário de Segurança Pública, agonizava). Dessa vez, disse o ex-ministro:
“Que as afirmações se tratavam de um chamamento para que todos os ministros atuassem dentro de suas pastas para que pudessem contribuir com o processo eleitoral que viria e uma almejada vitória; que a expressão ‘se foder’ significava a perda de todos os avanços que cada um tinha obtido ao longo dos quatro anos de trabalho hercúleo e muita entrega em cada uma de suas pastas (…)”.
Minutas
Em depoimento à PF na investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado, Torres negou ter participado de reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada após o segundo turno das eleições 2022 nas quais foram discutidas minutas golpistas para reverter o resultado das eleições e manter Bolsonaro no poder.
Ele ainda negou ter repassado a minuta golpista encontrada em sua residência pela PF ao então presidente ou mesmo a algum outro integrante do governo, e disse que os documentos do tipo estavam “banalizados” na ocasião.
O relato da PF sobre o depoimento de Torres está entre os tornados públicos pelo ministro do STF Alexandre de Moraes na tarde dessa sexta-feira (15). Segundo o texto, Torres afirmou: “Que reitera que suas idas ao Alvorada eram para despachar temas do Ministério com o então presidente; que afirma categoricamente que, em nenhuma oportunidade no Palácio da Alvorada naquele período (após o segundo turno das eleições), tratou de golpe de estado, abolição do Estado Democrático de Direito, Garantia da Lei e da Ordem, Estado de Sítio, Estado de Defesa, intervenção militar ou algo do gênero”.
A versão diverge da apresentada à PF pelos ex-comandantes da Força Aérea e do Exército, que afirmaram que Torres teria participado de algumas das reuniões para dar explicações sobre os mecanismos jurídicos que estavam sendo cogitados por Bolsonaro para se manter no poder.