Terça-feira, 05 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 4 de agosto de 2025
O terremoto de Valdivia, no Chile, ocorrido em 1960, não apenas entrou para a história como o mais poderoso já registrado, mas também mudou a forma como 46 países passaram a monitorar o oceano Pacífico. O impacto global do desastre levou à criação de uma rede internacional de vigilância, que permanece ativa até hoje para prevenir tragédias semelhantes.
Em 22 de maio daquele ano, o terremoto atingiu magnitude 9,5 na escala Richter, a maior já registrada. O epicentro foi próximo à cidade de Valdivia, a cerca de 830 km ao sul de Santiago. A devastação foi imediata e profunda.
Mais de 1.600 pessoas morreram e cerca de 2 milhões ficaram desabrigadas em decorrência do tremor e de seus desdobramentos. O impacto despertou a atenção internacional para a necessidade de sistemas globais de alerta diante da vulnerabilidade das populações costeiras.
O sismo gerou um tsunami de escala planetária. Ondas gigantes cruzaram o oceano Pacífico e atingiram em cheio localidades como Havaí, Japão, Filipinas e até a costa oeste dos Estados Unidos. No Havaí, o mar invadiu as ilhas cerca de 15 horas depois do tremor, causando destruição em série. No Japão, as ondas chegaram após 22 horas, matando mais de uma centena de pessoas.
A força do tsunami mostrou que eventos geológicos localizados podem ter consequências transoceânicas. A movimentação das placas tectônicas no Chile teve desdobramentos a milhares de quilômetros, deixando claro que um alerta eficaz só seria possível com cooperação internacional.
Diante disso, foi criado em 1965 o Sistema de Alerta e Mitigação de Tsunamis no Pacífico, coordenado pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco. A iniciativa reúne 46 países que compartilham dados sísmicos, oceânicos e meteorológicos em tempo real. O objetivo é detectar precocemente tremores com potencial de gerar tsunamis e alertar as regiões em risco.
O Brasil, embora banhado pelo Atlântico, não faz parte desse sistema, que se concentra no Pacífico, a região mais ativa em termos sísmicos. Mesmo assim, os avanços tecnológicos e científicos desenvolvidos a partir desse esforço colaborativo influenciaram políticas de gestão de risco em todo o mundo.
Além da prevenção de tsunamis, o terremoto de Valdivia impulsionou avanços na sismologia global. A energia liberada permitiu estudar com mais profundidade a estrutura interna da Terra e entender melhor a propagação de ondas sísmicas. O evento também contribuiu para o aperfeiçoamento de modelos de previsão e mitigação de desastres naturais.
A infraestrutura no Chile sofreu danos extensos. Mais de 58 mil residências foram destruídas. Nas redondezas de Valdivia, deslizamentos de terra causaram o bloqueio de rios e exigiram obras emergenciais para evitar inundações e novos colapsos. O abalo ainda provocou a erupção do vulcão Puyehue, agravando a crise humanitária e ambiental.
Décadas depois, a memória do terremoto continua viva. O episódio de 1960 serve como um marco de transformação na forma como os países lidam com riscos naturais. A tragédia, que abalou um continente e cruzou oceanos, também foi o ponto de partida para uma aliança global que vigia o mar em tempo real — um legado duradouro da destruição.