Terça-feira, 02 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 2 de dezembro de 2025
Uma operação conjunta do Ministério Público, Receita e polícias de Minas Gerais deflagrada nesta terça-feira (2) apura um esquema estruturado de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica envolvendo atacadistas, redes de supermercados e empresas do setor varejista no Estado.
Entre os alvos está o empresário Marcos Valério, condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como operador do mensalão e que cumpre pena domiciliar na cidade de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte.
Ele é apontado nas investigações como um dos articuladores do grupo de sonegação entre supermercados e atacadistas. Não foram divulgados detalhes sobre os alvos do esquema. Segundo o Ministério Público, as empresas investigadas deixaram de recolher mais de R$ 215 milhões em ICMS ao longo dos últimos anos.
Entre as empresas e supermercados alvo da operação está a rede Coelho Diniz, que atua no Leste de Minas Gerais e possui cerca de 25% das ações do Grupo Pão de Açúcar.
Ao todo, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em sedes de companhias e residências de empresários e funcionários, além da apreensão de celulares, documentos, equipamentos eletrônicos e veículos de luxo usados na lavagem de dinheiro. Também houve a decretação de indisponibilidade de bens no valor de R$ 476 milhões.
O caso é analisado pela 4ª Vara de Tóxicos, Organizações Criminosas e Lavagem de Bens e Valores de Belo Horizonte, responsável por crimes financeiros complexos. O processo corre em sigilo absoluto, por determinação judicial, para garantir a eficácia das diligências.
Além das fraudes fiscais, o Ministério Público também apura indícios de corrupção e financiamento ilícito. Na decisão que autorizou as medidas, o magistrado destacou indícios suficientes dos crimes e a necessidade das ações para evitar destruição de provas.
A defesa de Marcos Valério informou que não teve acesso ao processo. Segundo o Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de Minas Gerais (Cira-MG), que reúne os diferentes órgãos e instituições envolvidos na operação, o esquema funcionava por meio da criação de “empresas de fachada”.
Conhecidas no jargão fiscal como “barrigas de aluguel”, essas empresas eram abertas exclusivamente para emitir notas fiscais falsas e simular operações interestaduais.
A prática permitia ocultar a circulação real das mercadorias e evitar o pagamento de impostos estaduais, incluindo o ICMS devido por substituição tributária.
Na prática, as notas simulavam vendas para fora de Minas para reduzir a tributação, mas os produtos eram encaminhados a redes como o Coelho Diniz e outros estabelecimentos no estado.
As investigações, conduzidas há mais de 18 meses, apontam que mais de 100 empresas são suspeitas de integrar o esquema, sendo cerca de 30 delas alvo das buscas desta terça-feira.
De acordo com o Ministério Público, o grupo reduzia artificialmente os preços das mercadorias, ampliava os lucros ilícitos e prejudicava a concorrência, apropriando-se indevidamente do imposto que deveria ser recolhido ao Estado.
As autoridades também analisam movimentações financeiras e irregularidades contábeis para comprovar lavagem de dinheiro e ampliar a responsabilização dos envolvidos.