Quarta-feira, 03 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de setembro de 2025
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) defendeu junto ao Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) a competitividade do agronegócio brasileiro a partir de investimentos em inovação.
“A competitividade do agro brasileiro decorre de fundamentos legítimos, como os recursos naturais e investimentos contínuos em inovação, e não por práticas desleais de comércio”, disse a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, durante pronunciamento na audiência pública que ocorre nesta quarta-feira na Comissão de Comércio Internacional dos EUA em Washington.
A audiência é a primeira promovida pelo USTR no âmbito da investigação sobre supostas práticas desleais no comércio pelo Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos Estados Unidos.
Nessa primeira fase do processo, empresas e entidades do setor produtivo brasileiro apresentam sua defesa em uma manifestação oral de cinco minutos.
O USTR acusa o Brasil de práticas desleais relacionados ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, a tarifas preferenciais injustas, ao combate à corrupção, à proteção da propriedade intelectual, ao acesso ao mercado de etanol e ao desmatamento ilegal.
“Viemos defender os produtores e o agro brasileiro, destacando a importância do Código Florestal para o país e o respeito do produtor à legislação. E trouxemos outras evidências de que o crescimento do setor foi feito seguindo as regras do comércio internacional”, afirmou Mori, em nota, após a audiência.
Em nota, a CNA afirmou que Mori reafirmou o compromisso da entidade “com a transparência, o diálogo e o comércio justo entre o Brasil e os EUA” e lembrou que a CNA representa mais de 5 milhões de produtores rurais brasileiros.
Na apresentação, Mori rejeitou alegações de que os produtos brasileiros dependam de práticas comerciais ou ambientais inadequadas para acessar o mercado americano. “Os produtores rurais brasileiros operam sob normas rigorosas de conformidade, garantindo segurança, qualidade e transparência aos consumidores internacionais — inclusive aos norte-americanos”, defendeu Mori.
Mori lembrou ainda que o Brasil possui acordos comerciais limitados, sendo apenas 5,5% das exportações brasileiras de produtos agropecuários se beneficiam de alíquotas preferenciais. Ela acrescentou que mais de 90% das importações do Brasil seguem o princípio da Nação Mais Favorecida, garantindo igualdade de tratamento aos produtos norte-americanos.
A diretora da CNA destacou também que o setor agropecuário brasileiro importa máquinas agrícolas, sementes e fertilizantes dos Estados Unidos, compras que somaram US$ 1,1 bilhão em 2024. “Se por um lado o mercado americano é o terceiro principal destino das exportações do agro brasileiro, por outro somos um relevante consumidor de insumos, tecnologias e equipamentos industriais produzidos nos EUA”, afirmou.
Mori se manifestou também sobre o acesso brasileiro ao mercado de etanol, o qual é questionado pelos EUA em virtude da diferenciação tarifária. A diretora da CNA destacou que em 2024, o Brasil importou dos Estados Unidos 17 vezes mais etanol do que da Índia, enquanto o México não registrou exportações relevantes.
Quanto à alegação dos EUA sobre o combate ao desmatamento ilegal do Brasil, Mori ressaltou o Código Florestal Brasileiro como uma das legislações mais rigorosas do mundo que exige a preservação de reservas legais com vegetação nativa nas propriedades privadas.
Mori afirmou que 66% do território nacional está coberto por vegetação nativa, sendo metade desta área em propriedades rurais. “Reiteramos a disposição do setor agropecuário brasileiro para o diálogo construtivo e a cooperação com os Estados Unidos, certos de que uma relação comercial baseada em evidências, integridade, respeito mútuo e objetivos comuns é essencial para enfrentar os desafios globais da agricultura, segurança alimentar e sustentabilidade”, concluiu a diretora de Relações Internacionais da CNA.
A CNA apresentou também ao USTR uma manifestação escrita em 15 de agosto. Segundo a entidade, os argumentos técnicos demonstram a “conformidade e a legalidade das políticas e práticas adotadas pelo Brasil relativas a tarifas preferenciais”, “acesso ao mercado de etanol” e “desmatamento ilegal”.
(Com O Estado de S.Paulo)