Sexta-feira, 07 de novembro de 2025

Conheça a médica que convenceu Lula a adiar viagem à China

Na última quinta-feira (23), aos pés do avião presidencial, na Base Aérea de Brasília, a médica Ana Helena Germóglio recebeu uma das missões mais difíceis de sua carreira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que ela precisaria convencê-lo a ir ao hospital para passar por exames. O episódio foi um ensaio para a prova de fogo que viria dois dias depois, quando ela recomendou expressamente que o petista adiasse a viagem que faria à China no domingo (26), considerada uma das agendas mais estratégicas do presidente no exterior.

Aos 42 anos, Ana Helena assumiu a Coordenação de Saúde da Presidência em janeiro. De uma hora para outra, ela passou a ocupar o noticiário após diagnosticar o presidente com pneumonia e influenza. As orientações dela levaram Lula a cancelar sua partida para o país asiático um dia antes do voo e frustrar as expectativas de parte do setor produtivo brasileiro.

“Não é nada fácil cancelar a ida de uma equipe para China quando já há duas equipes em Pequim e Xangai, e outra esperando para embarcar. É uma responsabilidade muito importante. Mas antes de cuidar do CNPJ presidente da República, a gente tem que cuidar do CPF Luiz Inácio”, contou ao jornal O Globo.

Bem humorada, ela faz piada com a tensão vivida nos últimos dias e diz que os empresários convidados para integrar a comitiva presidencial não querem vê-la nem pintada de ouro. Com apenas três meses de trabalho na Presidência, Ana contou com aliados importantes no processo de persuasão do chefe da República. Tanto a primeira-dama, Janja Lula da Silva, como o médico pessoal e amigo de Lula, Roberto Kalil, referendaram a orientação da infectologista e ajudaram a explicar ao presidente a importância de ele se submeter a exames e adiar a viagem.

Ana Helena e Kalil mantêm as melhores relações e chegam a trocar figurinhas e “emojis” sobre a saúde de Lula. Desde o final da semana passada, os dois médicos se falaram várias vezes por dia para tratar sobre o quadro de pneumonia e influenza do presidente.

A médica foi indicada para a vaga na presidência da República por um ex-ocupante do posto, o médico Cléber de Araújo Leal Ferreira, que acompanhou Lula durante as duas primeiras passagens do petista pelo Planalto. Ela já havia trabalhado por seis meses no departamento, sob a chefia de Leal, no segundo mandato de Lula.

Paraibana, ela se formou pela Universidade Federal de seu Estado e se mudou para Brasília em 2005 para cursar residência na Universidade Nacional de Brasília (UNB). Desde então, atuou em hospitais e se tornou referência no tratamento de covid no Distrito Federal. Sua primeira viagem na comitiva presidencial foi emblemática: ela acompanhou o petista a Santos para o velório de Pelé.

“Acho que ninguém nunca se vê nesse cargo. Eu nunca vislumbrei isso, não era minha área de atuação. Na circunstância em que o país estava, como defensora da medicina preventiva, da vacina, da ciência, me senti surpresa e honrada com o convite”, afirma Ana, que não esconde a admiração pelo presidente.

No front

A profissional estava no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), fora do horário de trabalho, quando a primeira pessoa infectada pelo coronavírus no Distrito Federal chegou à unidade. Por se tratar de um caso grave, a infectologista foi chamada para examiná-la. A partir de então, Ana Helena foi um dos principais nomes do combate à doença no DF.

No HRAN e no Hospital Alvorada, onde atuou antes de integrar a equipe médica do presidente, a médica era querida pelo corpo técnico e também pelos pacientes. Responsável pelo serviço de controle de infecção do HRAN, a infectologista era uma espécie de “consultora” dos colegas, que pediam orientações para resolução de casos complexos.

Especialista em controle de infecção hospitalar, no início da pandemia, chegou a ficar dois meses longe dos filhos, Luiz (9 anos) e João (8 anos), devido ao excesso de trabalho e como medida de precaução. Na época, a médica teve voz ativa em defesa das vacinas e fez análises críticas sobre a atuação do governo de Jair Bolsonaro no controle da doença.

Depois de ocupar um posto-chave durante a pandemia no DF e assumir o cargo como médica da Presidência, a médica brinca que, para completar o currículo, falta apenas atuar como médica na NASA. Apesar da rotina atribulada dos últimos anos, a médica de Lula não tem dúvidas:

“Eu sempre pensei em fazer infectologia, porque minha mãe é infectologista e foi minha professora na faculdade. Sempre andei com ela no hospital, mesmo quando era criança, quando ela não tinha onde me deixar. Nunca pensei em fazer outra coisa.”

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Juiz envia ao Supremo acusações de réu da Lava Jato contra Sérgio Moro e Deltan Dallagnol
Aliados temem “choque de realidade” na volta de Bolsonaro ao Brasil
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play