Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de maio de 2025
A chegada de Campos Neto ao Nubank – a se confirmar após o período de “quarentena” pela saída da presidência do Banco Central – tem causado desconforto nos bastidores do segmento. Ouvidas sob anonimado pelo portal Estadão Conteúdo, executivos ligados a três instituições financeiras consideram que haveria um potencial conflito de interesse. Eles consideram que o mandato de Campos Neto à frente do BC teria favorecido a fintech em discussões regulatórias.
Campos Neto foi convidado para integrar a diretoria e o conselho do Nubank e informou que pretende aceitar a proposta para atuar como diretor de Políticas Públicas, vice-chairman e membro do conselho. A quarentena se encerra em 1º de julho. Ele rebate as críticas, diz que a agenda do BC é “institucional” e que gerou “democratização dos serviços financeiros”, além de ter beneficiado “milhões de brasileiros” (leia mais abaixo). Procurado, o Nubank não se manifestou.
Para um dos executivos ouvidos, havia muita abertura ao Nubank em pautas no BC na gestão Campos Neto, independente da Associação Brasileira de Bancos ou da Febraban, que representam o setor. Outra pessoa afirmou que houve uma “cruzada” contra bancos tradicionais.
Embora não seja a única fintech de grande porte do País, o Nubank é, de longe, a maior delas. Por isso, na visão dos bancos, teria sido a mais favorecida pelas mudanças de regulação feitas pelo BC.
Na gestão de Campos Neto, o regulador colocou no ar o Pix, sistema de pagamentos instantâneos que vinha sendo desenhado desde a gestão Ilan Goldfajn. Entre outras funções, o Pix se tornou um vetor de transferência de depósitos para as fintechs, ao facilitar e derrubar a zero o custo para que os clientes levassem dinheiro de uma instituição a outra.
Contraponto
Fontes próximas às fintechs apontam argumentos em contrário, ou seja, de que o BC teria sido mais rigoroso com o Nubank. Também durante o mandato de Campos Neto, foram publicadas duas regras mais duras que, na visão de agentes do mercado, miravam o forte crescimento da fintech, àquela altura já com capital aberto.
A primeira, em março de 2022, foi a que aumentou a exigência de capital para as instituições de pagamento. À época, o Nubank estimou que as regras definitivas eram de 10% a 15% mais duras do que se previa na consulta pública inicial.
Mais tarde, naquele mesmo ano, houve a aplicação de um teto para a tarifa de intercâmbio nas transações com cartões pré-pagos, que era uma fonte de receita relevante para a fintech. À época, o Nubank estimou que a mudança teria um impacto de cerca de 2,9% em sua receita total.
Não há ilegalidade na entrada de Campos Neto no Nubank após o período de quarentena. O ex-presidente do BC ainda não aceitou cargos oficialmente: ele afirmou que está disposto a aceitá-los assim que a quarentena acabar. Só depois disso haverá assinaturas de contrato e demais formalizações, como determina a regra.
Ao Estadão/Broadcast, Campos Neto reforçou que a agenda do BC é “institucional” e tem como objetivos “gerar inclusão, competição e sustentabilidade”. “Os programas e projetos que foram feitos têm gerado uma desconcentração e uma democratização dos serviços financeiros. Milhões de brasileiros são beneficiados neste processo”, respondeu. “O programa segue após a minha saída com muito sucesso, e tem metas ambiciosas e engajamento total do quadro de funcionários.”
O ex-presidente do Banco Central afirmou que, com a agenda conduzida na sua gestão, o Brasil “tem sido referência mundial em inovação e modernização.”
Ex-presidentes do Banco Central, como Armínio Fraga (1999-2003), também retornaram diretamente ao mercado após deixar o comando da autoridade monetária. Já outros, como Alexandre Tombini (2011-2016) e Ilan Goldfajn (2016-2019), antecessores de Campos Neto, tiveram trajetórias diferentes após deixar a autarquia.
(Com informações de Estadão Conteúdo)