Domingo, 16 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de novembro de 2025
Na esteira do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de abertura da COP30 no qual enfatizou ser o momento de “impor uma nova derrota aos negacionistas”, a pauta da desinformação ganhou protagonismo inédito na conferência com o lançamento da primeira Declaração sobre a Integridade da Informação sobre a Mudança Climática. A iniciativa ganhou fôlego em um momento em que a própria cúpula do clima se tornou alvo de campanhas de fake news nas redes sociais, com uso de imagens geradas por inteligência artificial.
Em Belém, no âmbito da convenção, foi lançada a primeira Declaração sobre a Integridade da Informação sobre a Mudança Climática. Trata-se de uma agenda da Iniciativa Global sobre Integridade da Informação em Mudanças Climáticas, da qual participam Unesco, o governo brasileiro e as Nações Unidas. Ela nasceu na cúpula de presidentes e chefes de Estado do G-20 em novembro de 2024, no Rio, e desde então vem ganhando força. No Palácio do Planalto, o tema é comandado pelo Secretário Nacional de Políticas Digitais, João Brant.
A declaração não contém ações práticas, mas expressa preocupação “com o impacto crescente da desinformação, informações falsas, negacionismo, ataques deliberados a jornalistas ambientais, defensores, cientistas, pesquisadores e outras vozes públicas e outras táticas usadas para minar a integridade da informação sobre mudanças climáticas, que diminuem a compreensão pública, atrasam ações urgentes e ameaçam uma resposta global ao clima e a estabilidade da sociedade”, entre outros pontos do documento.
O combate à desinformação é uma das grandes causas que o Brasil quer impulsionar na COP30, junto com a preservação das florestas. O tema não está na agenda oficial da convenção e, portanto, não faz parte das negociações. Os debates ocorrem em paralelo, sobretudo na chamada Blue Zone, onde estão as principais autoridades nacionais e subnacionais dos países que participam do evento. O grande ausente são os Estados Unidos de Donald Trump, que abriga, assim como a China, as principais big techs.
Enviado especial da presidência brasileira da COP para o tema, Frederico Assis tem conversado com representantes das plataformas e diz que sua aproximação tem sido positiva, mas “ainda há muito a ser feito”.
“Uma questão estrutural a ser resolvida é a de ter uma regulação inteligente, que preserve o direito à liberdade de expressão. Mas não é possível que ninguém seja responsabilizado por discursos de ódio, discursos que geram efeitos contra as pessoas”, diz Assis.
Modus operandi
Quando se buscam vilões em matéria de desinformação e clima, as grandes plataformas não estão sozinhas. Especialistas como Marie Santini, fundadora e diretora do Netlab, laboratório Escola de Comunicação da UFRJ, também são críticos em relação à atuação das empresas de setores que mais poluem o meio ambiente, entre elas as de petróleo e gás. Santini compara essa ação e sua estratégia para impedir que se avance na implementação de medidas que reduzam suas emissões a das empresas produtoras de tabaco, no passado.
Segundo a especialista, o modus operandi das empresas que poluem é de produzir ignorância e embaralhar os debates. “A desinformação está baseada em estratégias de manipulação que são pensadas e articuladas. Elas têm uma intenção muito clara para quem as produz”, diz a diretora do NetLab.
Diretora de pesquisa do Instituto Democracia em Xeque, Letícia Capone vê a iniciativa para a Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas como um avanço. A pesquisadora avalia que o protagonismo brasileiro na discussão vem ajudando na articulação da pauta e destaca a necessidade de um papel conjunto das nações para que haja um combate eficaz à mentira no campo do meio ambiente.
Fake news
Um levantamento mostra que já no primeiro dia da COP, na segunda-feira, foram localizadas mais de 1.114 postagens classificadas como falsas. O monitoramento, feito pela plataforma de IA Tistto, analisou dez mil publicações nas redes sociais TikTok, Instagram e X.
Entre elas, por exemplo, há postagens que apontam que o início do evento coincidiu com a chegada de um tornado no Paraná por conta de um “aviso divino” ou postagens que mostram uma foto de Lula “falando com a parede” em um discurso na conferência, criada a partir de ferramentas de inteligência artificial.
Também circulam fotos e vídeos manipulados que simulam um brinde de champanhe de Lula e Janja no iate usado como hospedagem em Belém ou um barco com a marca da COP 30 pegando fogo no porto da cidade.
Há também publicações que dão destaque a problemas de infraestrutura encontrados nos locais que sediam o evento, como as instalações de ar-condicionado que falharam durante os primeiros dias de cúpula. As informações são do jornal O Globo.