Quarta-feira, 15 de outubro de 2025

COP30 caminha entre expectativas e atritos – a diplomacia climática em cena

Com apenas algumas semanas de distância, a COP30 avança com intensidade, mesclando esperança, pressão diplomática e desafios logísticos. Nos bastidores de Belém, muito mais do que construções e listas de presença, ensaia-se uma partida diplomática decisiva — e já nos eventos pré-COP, nas cartas da presidência e nas cobranças sobre metas climáticas, ficam claros os rumos e os pontos de tensão dessa conferência.

A agenda das pré-COPs e mobilização global

Nos encontros preparatórios (pré‑COP) que se multiplicam mundo afora — incluindo diálogos ministeriais recentes entre Brasil e Índia, com foco em financiamento climático e adaptação — acende-se o termômetro das negociações. Em paralelo, quase 100 países anunciaram ou anunciarão novas metas climáticas (NDCs), ou se comprometeram a fazê-lo antes da conferência, cobrindo agora uma parcela significativa das emissões globais. Esse movimento mostra que já não basta prometer mais: exige-se compromisso de implementação das metas de redução de forma imediata.

No Brasil, a presidência da COP30 tem usado as chamadas cartas da presidência como instrumentos de comunicação política e diplomática. Elas orientam, convocam e posicionam o Brasil no debate climático global. A Segunda Carta, por exemplo, alertou que 2024 foi o ano mais quente já registrado e conclamou urgência nas ações. Outras cartas posteriores desenvolveram temas como justiça climática, bioeconomia e a integração entre ciência, povos tradicionais e tecnologia.

Por seu lado, o presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago, tem usado a narrativa de mutirão global contra a mudança do clima para estimular participação coletiva. A ideia é não tratar a COP como mero evento diplomático, mas como ponto de convergência para ações locais, regionais e globais simultâneas.

Os eixos temáticos e a credibilidade das metas

Em Belém, espera-se que os debates gravitem em torno de eixos como transição energética, financiamento climático, florestas e uso do solo, justiça climática, mudanças no uso da terra e adaptação. Esses temas são anunciados nas cartas da presidência como norteadores da agenda de ação.

Delegações confirmadas, infraestrutura e disputas por leitos

No plano prático, o Brasil tem anunciado que Belém já possui 53 mil leitos disponíveis para acomodar delegados — número que supera as expectativas iniciais. Mas nem tudo corre bem: uma greve de trabalhadores da construção civil em Belém atrasou parte das obras do “Leaders’ Village”, local destinado a chefs de Estado, e atrasos ameaçam o cronograma final.

Na esfera diplomática, ainda há acusações de que muitos países hesitam em confirmar delegações presenciais devido aos preços de hospedagem — que chegaram a multiplicar por 10 ou 20 os valores usuais — e à escassez de oferta. Essas disputas refletem tensões reais sobre a inclusão e equidade do evento.

Opinião: momento decisivo e riscos a gerenciar

A COP30 atravessa uma fase delicada: não basta que a cidade anfitriã esteja pronta, mas que o discurso global se traduza em compromissos confiáveis e ação real. As cartas da presidência têm papel importante de moldar percepções e mostrar intenções — mas são instrumentos simbólicos. A eficácia virá se delegações chegarem ao evento com metas robustas, compromissos claros de financiamento e vontade política para cumprir.

A honestidade dessa conferência será medida por sua capacidade de incluir países vulneráveis, povos tradicionais e atores que historicamente foram excluídos. Se os debates forem dominados por discursos vazios, a COP30 corre o risco de ser lembrada como espetáculo diplomático em vez de ponto de virada.

O mundo espera ver: a Amazônia como símbolo, o Brasil como mediador e os compromissos convertidos em ações. Que as cartas da presidência não fiquem no ar, e que o mutirão se transforme em entrega concreta — ou este será mais um capítulo de frustrações em conferências do clima.

Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista pela Transição Energética

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