Terça-feira, 18 de novembro de 2025

COP30: ciência alerta que Amazônia pode estar entrando em trajetória irreversível

Prioridade para o Brasil na COP30, as florestas têm conquistado avanços na Agenda de Ação, embora continuem longe do protagonismo na negociação oficial da convenção do clima da ONU.

Porém, cientistas alertam que a Amazônia já está desenhando o seu próprio “mapa do caminho”, nome que costuma ser dado aos planos das COPs.

E esse mapa mostra que, se o curso do desmatamento e das emissões globais de CO2 associadas à ação humana for mantido, será um percurso sem volta para um cenário de degradação, em que a mata passa de sorvedouro a emissora.

Cientistas reunidos no pavilhão da Ciência Planetária, na Zona Azul, apresentaram estudos que revelam uma Amazônia em transformação.

A floresta passou a reagir à agressão da mudança global do clima, do desmatamento e do fogo de forma desigual e perigosa, alerta a química Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Ela se baseia em dados coletados de medições feitas com avião, com cobertura de 95% da floresta, em diferentes altitudes.

Estima-se que a Amazônia absorva 20% das emissões globais de CO2. Se ela mudar em larga escala de sumidouro para emissora, todo o planeta vai sentir, frisa Gatti.

“A floresta está modificando seu comportamento para sobreviver. A Amazônia não é um mero amontoado de carbono estocado, como muitos a enxergam, mas um colossal corpo complexo. E esse corpo já não reage como antes. Será que ela mudou o próprio clima?”, questiona Gatti.

Segundo ela, desde 2016, a área em que a floresta se tornou fonte de CO2 em vez de sumidouro expandiu-se pelo sudeste e o nordeste da Amazônia. No ano passado, enquanto a maior parte das emissões de CO2 da Amazônia eram decorrentes dos incêndios, no sudeste da Amazônia, nos Estados do Pará e do Mato Grosso, 62% das emissões não vinham do fogo, mas da floresta degradada. Uma hipótese é que venham da decomposição da floresta morta.

Gatti é a líder do primeiro estudo a registrar que certas áreas do sudeste amazônico estavam liberando em vez de reter CO2. Suas novas pesquisas indicam um agravamento do cenário e sugerem que a Amazônia já não responde ao El Niño, mas ao aquecimento do Atlântico Norte. O resultado mais visível foi a seca extrema de 2023/24.

“A Amazônia é o nosso airbag climático, mas ela está doente, após anos de agressão. Mesmo após a redução recente do desmatamento, que é importante, mas não anula o efeito de décadas de perdas. Precisamos zerar o desmatamento. É uma emergência. Podemos estar perdendo neste momento o sudeste da Amazônia”, enfatiza Gatti.

Já um estudo liderado por Erika Berenguer, das universidades de Lancaster e de Oxford, e Cássio Alencar Nunes, da Universidade de Lancaster e da Universidade Federal de Lavras (UFLA) destaca o aumento da área queimada de florestas alagadas e uma mortalidade de árvores que cientistas classificam como brutal.

As florestas alagadas da Amazônia são as várzeas (à beira de rios de água branca, como o Amazonas) e os igapós (aquelas que margeiam rios de águas escuras, como o Negro).

Durante a seca extrema de 2023/24, 1,4 milhão de hectares de matas alagadas queimadas. Esse número é maior que a soma da área queimada nos quatro anos anteriores. Imaginava-se que, após um incêndio, a mortalidade das árvores fosse semelhante à registrada na terra firme e ficasse na faixa dos 50%. Mas os pesquisadores descobriram que entre 75% e 100% das árvores morrem.

Só em 2024, as florestas alagadas emitiram 108,9 milhões de toneladas de CO2; em 2023, 53,1 milhões. Nos anos anteriores não haviam ultrapassado 17,3 milhões. Uma hipótese é que, devido ao excesso de matéria orgânica acumulado, a floresta emita mais.

 

 

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