Segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de dezembro de 2025
Os anfitriões da Copa do Mundo de 2026, programada para o verão boreal nos Estados Unidos, México e Canadá, preveem altas temperaturas, um risco para os torcedores e os jogadores, além de um desafio organizacional que ainda apresenta incógnitas.
No início de dezembro, nas entranhas do SoFi Stadium em Inglewood, condado de Los Angeles, uma dezena de ventiladores de mais de dois metros de altura descansavam aguardando o momento em que o local receberá oito partidas da Copa do Mundo.
Se até lá a temperatura superar os 26,7°C, esses vaporizadores gigantes serão implantados no estádio.
A 45 metros do gramado, um teto garante sombra para os espectadores e o ar circula neste recinto aberto e não climatizado.
“Com 70.000 pessoas no estádio, em estado de emoção, queremos ser capazes de responder em caso de um forte calor”, explica à AFP Otto Benedict, vice-presidente operacional da sociedade que gerencia o estádio, inaugurado em 2020.
Os outros 15 estádios do torneio não são tão modernos, e o sul da Califórnia também não é a região com maior risco nesta competição, programada de 11 de junho a 19 de julho.
Pausas para reidratação
Um estudo publicado no International Journal of Biometeorology menciona uma “séria preocupação pela saúde dos jogadores e árbitros na Copa do Mundo de 2026 vinculada a calores extremos” e identifica seis sedes “de alto risco”: Monterrey (México), Miami Gardens, Kansas City, Foxborough, East Rutherford e Filadélfia.
O relatório “Terrenos em risco” da associação Football for Future destaca que em 2025 essas cidades enfrentaram pelo menos durante um dia temperaturas superiores a 35 graus em termômetros de bulbo úmido (WGBT), que levam em conta temperatura e umidade, “o limite da adaptação humana ao calor”.
O sufocante Mundial de Clubes do verão de 2025 nos Estados Unidos não se livrou dessas condições às vezes extremas, e a Fifa recebeu críticas de jogadores e treinadores.
Por isso, a máxima autoridade do futebol decidiu instaurar pausas de hidratação nos minutos 22 e 67 de todas as partidas mundiais, independentemente das condições, uma boa notícia para marcas publicitárias e difusores.
E o calendário priorizou os horários em pleno dia para os jogos em estádios climatizados (Dallas, Houston, Atlanta) e as horas mais frescas da tarde nas zonas de risco.
“Observa-se claramente um esforço para programar os horários de partidas baseando-se nas preocupações vinculadas à saúde e desempenho dos jogadores”, disse um porta-voz do sindicato de jogadores FIFPro, que desejou manter-se no anonimato.
Segundo ele, isso seria “uma consequência direta das lições aprendidas no Mundial de Clubes”.
‘Partidas de risco’
O sindicato mantém que ainda há “partidas de risco” e recomenda que os encontros sejam adiados quando superarem os 28 graus WGBT (Temperatura Globular de Bulbo Úmido).
A Fifa não respondeu a uma consulta da AFP sobre seu futuro protocolo em caso de condições extremas.
Além dos jogadores, o risco para os espectadores em estádios ou “fan-zones” tem sido “subestimado” em muitas ocasiões, afirma Christopher Fuhrmann, diretor adjunto do Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica.
Os torcedores geram calor “com seu entusiasmo” e, ao contrário de jogadores em plena forma física, podem ter “comorbidades” que os exponham a golpes de calor potencialmente mortais.
No interior dos estádios a temperatura é sempre maior, já que são estruturas construídas em cimento, asfalto ou metal, indica o pesquisador.
Fuhrmann destaca também possíveis problemas com “a circulação de ar”, “as zonas de sombra” e a “hidratação” dos torcedores, muitas vezes consumidores de bebidas alcoólicas.
A Fifa ainda não informou às empresas que operam os estádios se os torcedores poderão assistir com garrafas com refil ou se terão de pagar pela água.
Prevenção
Para o meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) Benjamin Schott, que aconselhou a Fifa e o grupo de trabalho dedicado ao Mundial, é preciso insistir na “prevenção” dos espectadores, especialmente dos estrangeiros, que desconhecem o clima local.
O NWS, que terá um interlocutor por cidade sede, exercerá uma função de alerta segundo as previsões meteorológicas. A Fifa e os governos locais tomarão a decisão sobre a realização dos jogos.
“Trabalhamos com as diferentes equipes de gestão de desastres (governos, forças da ordem, bombeiros, etc) para garantir a segurança de todos e nos preparar para qualquer coisa que a Mãe Natureza nos reserve”.
O meteorologista alerta que as condições do Mundial de Clubes não foram “nada excepcionais” em um país em que os recordes de temperatura são quebrados “todo ano”. Com informações do portal Estadão.