Quinta-feira, 26 de junho de 2025

Coreia do Sul proíbe carne de cachorro: saiba o que vai acontecer com os animais

Na Coreia do Sul, centenas de criadores de cães para consumo enfrentam um futuro incerto após a aprovação de uma lei que proíbe a venda de carne de cachorro. A legislação, sancionada em 2024, dá prazo até fevereiro de 2027 para o encerramento completo das atividades. No entanto, muitos afirmam que o tempo é insuficiente e que o governo ainda não apresentou soluções viáveis para os milhares de animais que permanecem em cativeiro.

O reverendo Joo Yeong-bong, de 60 anos, é um dos afetados. Quando não está pregando a palavra de Deus, ele cuida dos cães que cria para o abate. “Desde o verão passado, estamos tentando vender nossos cães, mas os comerciantes continuam hesitando. Nenhum deles apareceu”, disse à reportagem. Ele também é presidente da Associação Coreana de Cães para Consumo, que representa o setor.

A lei prevê que os criadores devem desativar suas fazendas e vender os animais restantes dentro do prazo estipulado. Mas, com o mercado estagnado e a rejeição crescente da sociedade ao consumo da carne de cachorro, milhares de cães permanecem sem destino. A estimativa do governo é de que ainda existam cerca de meio milhão de cães criados para esse fim no país.

Especialistas em bem-estar animal e até mesmo defensores da nova legislação reconhecem os desafios para sua aplicação. Um dos principais entraves é a falta de um plano efetivo de realocação dos animais. Muitos dos cães resgatados enfrentam agora o risco de eutanásia por falta de espaço e demanda nos abrigos.

No meio do impasse, criadores como Chan-woo, de 33 anos, lidam com dívidas e incertezas. Com 600 cães em sua propriedade, ele teme as consequências legais após o prazo. “Investi todos os meus ativos na fazenda e nem sequer conseguem levar os cães”, disse, sob anonimato. Ele critica o governo e os ativistas, afirmando que não há um plano real para absorver os animais.

A situação dos cães é agravada pelo perfil das raças criadas. Como o peso representa maior lucratividade, fazendas priorizam raças grandes, como o tosa-inu, considerada perigosa pela legislação sul-coreana e que exige autorização especial para adoção. Essa característica dificulta ainda mais o processo de realocação para lares comuns.

Além disso, há um estigma social em adotar cães oriundos de fazendas de carne, devido a possíveis traumas e riscos à saúde. Lee Sangkyung, gerente de campanha da Humane World for Animals Korea (Hwak), admite que o governo e os grupos civis ainda não têm uma resposta clara. “A proibição foi aprovada, mas ainda faltam soluções para os cães deixados para trás”, afirmou.

O Ministério da Agricultura afirmou que, caso os criadores entreguem os animais, os governos locais os acolheriam em abrigos. Mas esses espaços já estão lotados, e o número de cães excede em muito a capacidade das instituições de acolhimento. Com isso, cresce o temor de que a única saída seja a eutanásia.

Em setembro de 2024, Cho Hee-kyung, da Associação Coreana de Bem-Estar Animal, reconheceu que parte dos cães “serão submetidos à eutanásia”. A declaração causou indignação. Dias depois, o governo tentou conter a reação pública, garantindo que sacrificar os animais “certamente” não faz parte dos planos oficiais.

Enquanto o prazo final se aproxima, criadores, ativistas e autoridades seguem sem consenso. O país, que já foi um dos maiores consumidores de carne de cachorro da Ásia, agora se depara com um dilema ético e logístico que coloca em xeque a capacidade de proteger os direitos tanto dos humanos quanto dos animais envolvidos.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Você viu?

Qual é a semente que promove a saúde celular, protege o coração e reduz a inflamação
Apple lança segundo beta do iOS 26 corrigindo problemas de design
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play