Domingo, 19 de outubro de 2025

Criminalidade e Taiwan marcam eleição presencial no Paraguai

Da capital paraguaia Assunção a Taipé e Washington, diplomatas, autoridades – e produtores agrícolas – estão acompanhando de perto uma disputa eleitoral acirrada que pode determinar os futuros laços do Paraguai com Taiwan.

O Paraguai escolherá em seu próximo presidente em 30 de abril, entre um candidato do partido governista que promete estender relações diplomáticas de décadas com Taiwan e um rival da oposição que é a favor de mudar os laços rumo à China para impulsionar a economia agrícola do país sem saída para o mar.

A pressão dentro do país sul-americano tem aumentado, especialmente de seu poderoso lobby agrícola, para mudar os laços com a China e abrir os lucrativos mercados do país asiático para a soja e a carne bovina do Paraguai, seus principais produtos de exportação.

“Somos uma nação produtora de alimentos que não está vendendo para o maior comprador mundial de alimentos”, disse Pedro Galli, chefe da Associação Rural Paraguaia (ARP). Sua organização representa cerca de 3 mil agricultores locais.

Se o Paraguai reconhecer a China, seria um golpe para Taiwan, que enfrenta uma batalha difícil contra a força econômica de Pequim para manter seus 13 aliados restantes em todo o mundo, e um novo sinal da crescente influência da China em uma área que Washington há muito considera seu quintal.

O candidato da oposição Efraín Alegre, que representa uma coalizão de centro-esquerda, disse em janeiro e novamente em abril que favoreceria as relações com a China, o maior importador mundial de carne bovina e soja, se eleito presidente.

O candidato conservador do Partido Colorado, Santiago Peña, prometeu ficar com Taiwan. Uma delegação multipartidária visitou a ilha em fevereiro, buscando acalmar o nervosismo taiwanês.

Taipé, que afirma fornecer apoio econômico a seus aliados, disse na semana passada que estava “perplexa” com a posição da oposição paraguaia e que faria o possível para manter suas relações diplomáticas com o país.

Dia definitivo

As eleições presidenciais no Paraguai ocorrem em apenas um turno, e serão definidas neste domingo a favor de quem obtiver a maior votação, sem necessidade de maioria absoluta.

Os 4,8 milhões de eleitores escolherão também o próximo Parlamento de 45 senadores e 80 deputados, além de 17 governadores.

A mais recente pesquisa feita pela Atlas, entre os dias 20 e 24 de abril, com uma margem de erro de 2 pontos percentuais, indicou um intenção de voto de 34,3% para Alegre e 32,8% para Peña. Em terceiro lugar figura Paraguayo Cubas, um direitista antissistema, com uma curva ascendente que o leva a 23%

Porém, será a formação do Congresso que irá determinar a governabilidade, com um Partido Colorado que pode se dividir em duas bancadas, entre os que apoiam o ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), sancionado por corrupção pelos Estados Unidos e padrinho político de Peña, e os que apoiam o presidente Abdo.

“A pior oposição que Peña enfrentará, se vencer, será dentro de seu partido, não fora dele”, comentou à AFP o analista político Sebastián Acha.

Corrupção e infiltração do crime organizado estão na lista de acusações mútuas das duas correntes do partido governista, com o vice-presidente Hugo Velázquez sancionado também pelos Estados Unidos.

O trabalho a ser feito

O próximo governo deverá enfrentar o combate à pobreza e as desigualdades em um cenário econômico global pouco favorável.

Com uma economia impulsionada pelas exportações de produtos agrícolas, o Banco Central prevê em 2023 um crescimento de 4,8% do PIB. O FMI o calculou em 4,5%, um dos mais altos da América Latina.

Mas a pobreza alcança 24,7% dos 7,5 milhões de habitantes e a pobreza extrema 5,6%, segundo a pesquisa domiciliar de 2022 do Instituto Nacional de Estatísticas.

“Paraguai, por mais que esteja entra as economias que menos sentiram o impacto da pandemia, que tem uma das qualificações mais altas em negócios da Fundação Getúlio Vargas, não deixa de ser um país onde a desigualdade econômica continua existindo em sua população”, disse o economista Stan Canova.

Em Assunção, os contrastes são evidentes entre os luxuosos edifícios comerciais construídos nos últimos anos e os frágeis barracos arrastados pelo rio Paraguai a cada enchente.

“Nós não vamos votar. Não há propostas sérias para os pobres”, disse Albino Cubas, um vigia particular de 41 anos, que perdeu sua casa na última inundação.

O consultor econômico Rubén Ramírez concordou que “o grande problema do Paraguai é não ter alcançado um equilíbrio maior na distribuição de renda para uma maior igualdade”.

“O próximo governo vai enfrentar um panorama mundial complexo. Há imprevisibilidade sobre a evolução dos preços das commodities, em um contexto global de inflação”, afirmou .

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