Segunda-feira, 07 de julho de 2025

Crise do IOF fez o PT virar o jogo nas redes e emplacar uma nova bandeira

Quando decidiu fazer o jogo da oposição (e de governistas contrariados) e botar em votação a derrubada de decretos do governo sobre IOF, Hugo Motta não imaginava que daria ao presidente Lula e ao PT a oportunidade de saírem das cordas no debate público.

Como reação à derrota imposta pelo Congresso, Lula e o partido desfraldaram a bandeira da justiça tributária. Botaram nas ruas e nas redes, um pouco antes do pretendido, planos preparados para a batalha em torno da lei de isenção total de imposto de renda para salários de até 5 mil reais e de isenção parcial para contracheques de até 7 mil reais.

São estratégias políticas e de comunicação com o objetivo de vender a imagem de que, ao tentar cumprir uma promessa de campanha de 2022, Lula lidera “a maior virada de justiça tributária da história do País” e tem “coragem para enfrentar poderosos”. Uma reedição do discurso “pobres x ricos” que marcou o segundo mandato de Lula, agora empurrando para o Congresso o papel de defensor da elite e de privilegiados.

Na campanha de 2022, Lula prometeu, entre outras coisas, “colocar o rico no imposto de renda”. Em março, enviou ao Congresso um projeto de isenção para 15 milhões de trabalhadores e de taxação maior para 140 mil milionários. É com essa cobrança adicional que o governo espera cobrir os 25 bilhões de reais de renúncia fiscal. Eis o desafio: mandar a conta aos milionários e aprovar a lei no Congresso.

O PT começou a desenhar os planos justamente para apoiar a taxação dos mais ricos. Para ganhar apoio popular e dobrar deputados e senadores, encomendou estudos ao marqueteiro Otávio Antunes, um discípulo de João Santana que liderou campanhas petistas recentes e hoje atua na comunicação do partido.

Com base em pesquisas quantitativas e qualitativas, Antunes concluiu que o melhor caminho para “vender” a batalha do imposto de renda é reforçar a ideia de “justiça histórica” Para ele, o discurso pode transmitir esperança e oferecer um horizonte inspirador ao povão.

A primeira etapa da campanha, lançada nas redes logo após a derrubada dos decretos do IOF, aposta no slogan “taxação BBB”: bilionários, bancos e bets. O governo tentou, com os decretos, fechar brechas que acredita serem usadas por endinheirados para driblar o tributo sobre operações financeiras.

Junto da última versão do decreto, Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assinaram uma medida provisória com mais impostos para bancos digitais (fintechs) e casas de apostas online (bets). A decisão busca equilibrar as contas públicas sem cortar gastos sociais. Eis a conexão do caso IOF com a batalha do IR: os de cima pagam a conta.

O monitoramento do PT sobre as redes mostra que a estratégia tem dado resultado. A simpatia por Lula cresceu. Pesquisas recentes do AtlasIntel para clientes do mercado, que circularam no Congresso, indicam melhora no ibope do presidente e de seu governo. Idem na intenção de voto, com Lula à frente de todos os rivais.

“A gente acertou na embocadura, ficamos dois anos nas cordas”, disse na quarta-feira 2, sobre os planos petistas, o secretário nacional de comunicação do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), em debate online com apoiadores de Lula. “A guerra é sobre distribuição de renda. Foi para isso que o Lula foi eleito (…). Eles nos chamaram para a briga, e nós somos bons de briga.”

No mesmo debate, o advogado Marco Aurélio de Carvalho comentou que Lula e o PT têm de “agradecer” a Hugo Motta por, involuntariamente, ter permitido a reação.

Lula e Haddad têm reforçado a mensagem em eventos e entrevistas, martelando o discurso de justiça tributária, combate a privilégios e defesa do povo.

Durante uma carreata em Salvador em 2 de julho, data histórica na Bahia, Lula segurou um cartaz que dizia “Taxação dos super ricos!”. Em 27 de junho, no Tocantins, disse que os ricos não gostam dele porque prefere encontrar catadores de lixo às vésperas do Natal a “tomar uisquezinho” e “jogar golfe com eles”.

No dia 1.º de julho, no Palácio do Planalto, afirmou que “há uma rebelião” quando se tenta taxar milionários. “Isso acontece por ganância, a doença da acumulação de riqueza”, criticou. E arrematou: “Queremos apenas reduzir privilégios de alguns para dar direitos a outros.”

No mesmo evento, Haddad declarou que “é hora de buscar crescimento com justiça social” e que seguirá denunciando a injustiça do sistema tributário, uma das causas da concentração obscena de renda no País. “A verdade incomoda”, resumiu.

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