Sábado, 26 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de abril de 2025
Cresceu no núcleo do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta semana, a percepção de que há uma crise “lamentável” aberta entre Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Essa crise se aprofundou, segundo interlocutores, com a revelação de uma suposta operação de espionagem feita pela Abin para monitorar autoridades do Paraguai envolvidas em negociações sobre a usina de Itaipu.
O governo se preocupa com a disputa entre os órgãos, e avalia que episódios como esse expõem um setor importante da inteligência brasileira. Mais que isso, revelam a existência de vários grupos dentro da PF.
Por isso, no começo do mês, o presidente Lula conversou com o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Correa, e com o diretor da PF, Andrei Passos.
Segundo um interlocutor de Lula, a situação atual deixa a inteligência brasileira, e o país como um todo, expostos no cenário internacional. O vazamento da ação de espionagem contra o Paraguai, por exemplo, acabou criando uma crise diplomática entre os países.
De forma pragmática, a percepção é de que os países mantêm seus setores de inteligência não para fazer guerra ou criar conflito, mas justamente para se posicionar no cenário global de forma estratégica.
O governo Lula, aliás, decidiu interromper a ação de espionagem da Abin contra o governo do Paraguai – idealizada no governo Jair Bolsonaro – assim que tomou conhecimento do caso.
Por isso mesmo, incomoda o governo Lula que uma ideia da gestão anterior respingue na administração atual.
Incomoda, da mesma forma, que a investigação da chamada “Abin paralela”, também relacionada ao governo Bolsonaro, tenha passado a apurar condutas da gestão atual para, supostamente, atrapalhar o inquérito. Na visão do governo, isso acontece justamente em razão de uma disputa entre PF e Abin.
Nesta quinta, o atual chefe da Abin e um ex-diretor-adjunto que comandou a agência já no governo Lula foram chamados para depor à PF sobre essa suposta tentativa de atrapalhar as investigações.
Depoimentos
O diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Correa, e o ex-diretor-adjunto do órgão Alessandro Moretti prestaram depoimento à Polícia Federal em Brasília, nesta quinta-feira (17), sobre suspeitas de espionagem ilegal.
Os dirigentes chegaram à sede da PF por volta das 14h30, em carros separados. Os depoimentos estavam marcados para as 15h.
Correa deixou o local pouco antes das 20h, cerca de cinco horas depois. Moretti saiu do prédio ainda mais tarde, perto das 23h – oito horas depois do início previsto.
Correa e Moretti foram ouvidos de forma simultânea, mas em salas separadas. Agendamentos desse tipo são comuns na reta final de investigações, para garantir que não haja interferência nas falas.