Segunda-feira, 07 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 6 de julho de 2025
Publicada nesse domingo (6), a declaração final da cúpula de líderes do Brics, no Rio de Janeiro, foi marcada pela firme defesa do multilateralismo, condenações a guerras e ao uso de sanções e tarifas como ferramentas políticas. O tom, no entanto, foi bem mais ameno do que o adotado em edições anteriores, sem fazer menções diretas aos Estados Unidos.
O Ministério das Relações Exteriores publicou a “Declaração do Rio de Janeiro”, a carta final com tudo o que foi discutido ao longo do ano pelos diplomatas dos 11 países-membros do Brics, reunidos no Museu de Are Moderna (MAM).
Os líderes do grupo emitiram uma declaração com posicionamentos de destaque para temas de ordem internacional — a começar por mudanças na ONU.
O documento expressa apoio a uma “reforma abrangente” da ONU, com ênfase na modernização do Conselho de Segurança. O objetivo é torná-lo mais democrático, representativo e eficiente, ampliando a presença de países em desenvolvimento, com especial atenção a África, América Latina e Caribe.
Os líderes reforçaram o compromisso com uma solução de dois Estados na crise entre Palestina e Israel, baseada em negociações pacíficas que respeitem as fronteiras internacionalmente reconhecidas. O texto afirma que esse modelo é “o único meio” para assegurar a paz e a estabilidade na região.
A proposta de dois Estados contrasta com a postura oficial do Irã, que não reconhece a legitimidade do Estado de Israel. Ainda assim, a delegação iraniana apoiou a declaração conjunta, o que indica um alinhamento pontual em nome da estabilidade regional, apesar das divergências históricas.
A declaração também expressa repúdio a “ataques contra o Irã”, ainda que sem apontar diretamente os responsáveis – e sem citar os Estados Unidos ou qualquer potência específica.
* Defesa do multilateralismo
Fortalecimento de instituições multilaterais, como a ONU, e o respeito ao direito internacional.
Rejeição a ações unilaterais como o que enfraquecem o sistema global. O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não foi especificamente citado.
“Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio”, diz item do documento.
* Reforma da governança internacional
Apoio à reforma no Conselho de Segurança da ONU, no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial.
Maior representação de países do Sul Global nessas instituições.
O termo “Sul Global” se refere aos países em desenvolvimento, localizados principalmente na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio. Eles compartilham desafios como pobreza, desigualdade e menor acesso a tecnologia, e defendem maior representação nas decisões internacionais. Na política global, o Sul Global costuma se opor aos países ricos do chamado “Norte Global”, como EUA, Canadá e Europa.
No caso do Conselho de Segurança, o grupo diz querer ” torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente” e manifesta apoio a “aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina (…) a desempenhar um papel maior nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança”.
“Recordando as Declarações dos Líderes de Pequim, de 2022, e Joanesburgo II, de 2023, China e Rússia, como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, reiteram seu apoio às aspirações do Brasil e da Índia de desempenhar um papel mais relevante nas Nações Unidas, incluindo o seu Conselho de Segurança”.
* Cooperação econômica e financeira
Incentivo à utilização de moedas locais nas transações entre países do Brics.
Fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e do Arranjo Contingente de Reservas (ACR), ampliando a cooperação financeira entre os membros.
* Ação climática e ambientais
Compromisso com o fundo “Tropical Forests Forever”, voltado à preservação de florestas tropicais e da biodiversidade.
Apoio a uma transição ecológica justa, com financiamento climático compartilhado e foco em desenvolvimento sustentável.
* Conflitos e segurança global
Condenação a ataques recentes contra o Irã, embora sem citar diretamente os Estados Unidos ou Israel.
Condena ataques à Rússia, mas não condena ataques à Ucrânia. A Rússia é um dos membros permanentes do Brics, e o presidente Vladimir Putin participou do encontro por videoconferência.
Posição conjunta em relação às crises no Oriente Médio, incluindo os conflitos em Gaza e a tensão entre Irã e Israel.
Os líderes reafirmaram apoio à solução de dois Estados como caminho para resolver o conflito entre Israel e Palestina. Defendem a criação de um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, com capital em Jerusalém Oriental. O texto pede que a comunidade internacional atue para garantir o fim da violência em Gaza e assegurar a proteção dos civis palestinos.
Defesa de soluções pacíficas, diplomáticas e negociadas, com base no direito internacional.