Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 6 de março de 2022
O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo deve abrir um processo, nesta semana, para investigar o deputado estadual Arthur do Val, do Podemos, pelos comentários ofensivos e machistas sobre mulheres ucranianas.
Os áudios que o deputado Arthur do Val enviou para um grupo de amigos vazaram na internet e causaram indignação. O parlamentar, conhecido como “Mamãe Falei”, fez comentários ofensivos e machistas sobre mulheres ucranianas.
“Elas olham, cara. Elas olham, e vou te dizer: são fáceis, porque são pobres. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade”.
Em outro trecho da conversa, o parlamentar chega a citar as refugiadas que tentavam fugir da guerra: “Nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas, irmão. Imagina uma fila de sei lá, de 200 metros ou mais, só deusa. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”.
Nas mensagens, ele ainda diz que quer voltar à Ucrânia quando a guerra acabar: “Eu tenho 35 anos, cara, eu nunca vivi isso. E eu nem peguei ninguém aqui. Eu não peguei ninguém aqui. Mas só a sensação de saber que eu poderia fazer, e sentir como é alguém. Enfim, vocês sabem, né? Já estou comprando a minha passagem para o Leste Europeu para o ano que vem, assim que chegar em São Paulo.”
Logo que desembarcou no Brasil, da viagem à Ucrânia, que ele alegou ser de missão humanitária, o deputado admitiu que gravou os áudios: “Confirmo. Fui eu mesmo que mandei num grupo de amigos. Foi errado, foi. Foi zuado, foi ruim, foi. Eu passei uma impressão para as pessoas que não me conhecem de uma pessoa que eu não sou. O que parece, parece, sei lá, que eu sou um baladeiro que compra mulheres e eu não sou isso”, tentou se defender.
No início da tarde, Arthur do Val divulgou uma nota em que afirma retirou a pré-candidatura ao governo de São Paulo.
Repúdios
Mais cedo, a presidente do Podemos, Renata Abreu, já tinha dito que a pré-candidatura dele seria reavaliada: “Iniciamos naturalmente um processo disciplinar dentro do partido, naturalmente garantindo todo o contraditório, toda a ampla defesa, mas de fato é triste como mulher a gente ouvir essas declarações”.
Em uma postagem, o pré-candidato à Presidência Sergio Moro, que também é do Podemos, repudiou as declarações divulgadas. E disse que jamais dividirá palanque ou apoiará pessoas com esse tipo de opinião e comportamento.
A Sociedade Ucraniana Brasileira, uma entidade civil para preservação cultural, declarou que se aproveitar de fragilidades de qualquer nível, em um estado de guerra, é, além de condenável, desumano.
O deputado Arthur do Val deve enfrentar um processo no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo. Deputados da Alesp já prepararam representações contra o parlamentar, por quebra de decoro. A punição pode ser de uma simples advertência até a perda do mandato.
“Eu considero um caso bastante grave, porque as palavras atingiram duramente as mulheres da Ucrânia. E quando uma mulher é atingida no mundo, nós todas nos sentimos contaminadas pela dor dessas mulheres. A sociedade exige resposta e essa resposta será dada pela comissão de ética”, destaca a deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), presidente do Conselho de Ética da Alesp.
A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados divulgou uma nota repudiando as falas do deputado. E o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa (PT), afirmou que vai pedir a convocação de Arthur do Val para explicar as declarações.