Domingo, 14 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de setembro de 2025
Ferramentas de inteligência artificial (IA) como o ChatGPT podem trazer malefícios para o cérebro do usuário após o uso excessivo e contínuo, como impactos na memória, atenção, criatividade e raciocínio crítico.
Para avaliar os efeitos, um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) dividiu 54 participantes entre 18 e 39 anos em três grupos que deveriam escrever redações no padrão do SAT, o vestibular norte-americano. Um deles usaria o ChatGPT, outro, o mecanismo de busca do Google, e o terceiro grupo não usaria nenhuma plataforma. Ao longo de quatro meses, os pesquisadores usaram eletroencefalogramas (EEG) para monitorar a atividade cerebral dos participantes.
Depois disso, eles chegaram à conclusão de que os usuários do ChatGPT tiveram menor engajamento neural, baixa ativação de criatividade e memória, e menor conexão com os próprios textos – com dificuldade de lembrar ou explicar o conteúdo que escreveram. Essas pessoas ficaram mais dependentes de copiar e colar e tiveram menos esforço intelectual para escrever.
Já os voluntários que escreveram as redações sem ajuda mostraram maior atividade cerebral, mais curiosidade e originalidade nos textos. Quando os grupos foram alternados, os usuários de ChatGPT tiveram dificuldade para escrever sozinhos, mas os que haviam escrito a redação sem ajuda conseguiram usar a IA de maneira complementar e benéfica.
Saúde mental
Além dos efeitos negativos em relação à atenção, criatividade e memória, o uso intensivo de IA pode trazer consequências para a saúde mental dos usuários, causando dependência emocional, ansiedade e isolamento. Outro estudo do MIT em parceria com a OpenAI, empresa dona do ChatGPT, apontou, por exemplo, que quanto mais tempo os usuários conversam com o chatbot, maior a sensação de solidão e a dependência emocional em relação à ferramenta e menor o índice de socialização.
Segundo Thiago Henrique Roza, psiquiatra e professor da UFPR que pesquisa vícios tecnológicos, o uso excessivo de IA pode causar dependência da tecnologia, o que dificulta o usuário a resolver problemas por conta própria. Além disso, o uso de IA pode dificultar o desenvolvimento de vínculos sociais e estimular o tédio para a pessoa, dificultando a capacidade crítica de filtrar, relacionar ideias e selecionar fontes sem uso da tecnologia.
“Essa interação frequente com inteligências artificiais, chatbots e LLM pode causar uma dificuldade do indivíduo adquirir habilidades, principalmente capacidades de resolução de problemas complexos e pensamento crítico”, disse o especialista.
As inteligências artificiais podem contribuir para o aumento de sentimentos ligados à inadequação, redução da autoconfiança e sensação de desamparo, que podem causar diversos danos à saúde mental dos internautas. Os fatores psicológicos agravam mais as capacidades cognitivas e aumentar a dependência dos humanos em relação à IA, com possível redução de habilidades interpessoais.
Pesquisa
A pesquisa do MIT revela que as crianças e jovens são mais suscetíveis a malefícios no uso excessivo de inteligência artificial porque estão com o cérebro em desenvolvimento. Quanto mais a pessoa depende da IA, menos responsabilidade ela sente em relação ao conteúdo produzido, o que pode comprometer a autonomia intelectual, o pensamento crítico e a capacidade de argumentação, gerando “custos cognitivos”. Portanto, crianças e jovens que dependem da IA para realizar as tarefas escolares podem sofrer consequências psicológicas e cognitivas.
Por outro lado, adultos que utilizam ferramentas de inteligência artificial no dia a dia podem ter mais benefícios profissionais. Isso porque eles podem usar as IAs para automatizar tarefas repetitivas, auxiliar na elaboração de resumos de reuniões, cronogramas e planejamentos.
Como os adultos não estão em “desenvolvimento”, eles já aprenderam o básico, assim, a IA serve como um trampolim para realizar as atividades – ao contrário das crianças e adolescentes, que podem ficar reféns do uso da tecnologia já que não aprenderam a fazer determinadas tarefas de maneira autônoma. (Com informações do portal Tech Tudo)