Terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Dez anos do Acordo de Paris: entre conquistas, mitos e urgências

O Acordo de Paris, adotado em 2015 durante a COP21, completa uma década. Foi celebrado como um marco histórico: pela primeira vez, 195 países se comprometeram a enfrentar juntos a crise climática. No entanto, dez anos depois, a Organização das Nações Unidas alerta que o mundo ainda está distante da meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C ponto crítico para evitar impactos severos e irreversíveis.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que as emissões precisam cair 43% até 2030. António Guterres, secretário-geral da ONU, reconhece que o tratado “está funcionando”, mas insiste que a ação precisa ser mais rápida. Graças ao pacto, evitamos a trajetória catastrófica de 4°C, mas seguimos em direção a 2,5°C. É um avanço, mas insuficiente.

Verdades e mitos sobre o Acordo de Paris

Entre os fatos, é inegável que o acordo trouxe uma nova dinâmica à ação climática. Como lembrou o embaixador André Corrêa do Lago, em 2015 a agenda estava emperrada; hoje, há mecanismos de transparência e ciclos de revisão que pressionam os países a agir.

Mas há mitos que precisam ser desfeitos. Um deles é a ideia conspiratória de que o Acordo de Paris seria parte de uma “nova ordem mundial comunista”. Essa fake news circula em redes sociais e grupos de desinformação, associando a cooperação internacional a uma suposta perda de soberania. Nada mais distante da realidade: o acordo não impõe regimes políticos, apenas estabelece metas ambientais e mecanismos de cooperação. Outras teorias conspiratórias falam em “imposição de pobreza” ou “controle populacional”, mas ignoram que o verdadeiro objetivo é garantir um planeta habitável.

Essas mentiras correm mais rápido que a verdade porque exploram medos e desconfianças, simplificando um problema complexo em narrativas fáceis de compartilhar. A ciência, por sua natureza, é cautelosa, baseada em evidências e revisões. Já a desinformação se espalha com frases curtas e alarmistas.

Dez anos depois: por que ainda não conseguimos?

Apesar dos avanços, as emissões globais continuam crescendo. A transição energética é lenta, travada por interesses econômicos e políticos. O resultado está diante de nós: calor extremo nunca antes registrado, incêndios florestais devastadores, enchentes, ciclones, furacões, granizos e tempestades de raios. É assustador afirmar que tudo isso recém está começando.

O ser humano, causador da crise, ainda pode se adaptar com tecnologia, mas a perda maior está na natureza. Animais, plantas e ecossistemas inteiros não têm como se reinventar diante da velocidade das mudanças. Cada espécie perdida é uma biblioteca de conhecimento e equilíbrio que desaparece para sempre.

Sustentabilidade e responsabilidade geracional

Sustentabilidade significa garantir um planeta habitável para as futuras gerações. A atual geração, porém, tem sido irresponsável. Em vez de reduzir emissões e proteger ecossistemas, seguimos ampliando a pegada ecológica. O Acordo de Paris é um lembrete de que não temos tempo a perder.

Um apelo à ciência

Peço desculpas pelo desabafo, mas é necessário insistir: ouçam a ciência. A ciência validada por instituições como o IPCC, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a Royal Society do Reino Unido, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entre tantas outras. Quando apenas um “dito cientista” contesta toda uma comunidade científica, é preciso entender que não pode ser validado. Caso contrário, corremos o risco de voltar à era das trevas, onde opinião se sobrepõe a evidência.

Reflexão final

O Acordo de Paris não é perfeito, mas é o que temos de mais próximo de um pacto global pela sobrevivência. Dez anos depois, o desafio é transformar promessas em ação concreta. A humanidade está diante de uma encruzilhada: ou seguimos alimentando mitos e adiando decisões, ou escolhemos a verdade científica e a responsabilidade ética.

A boa notícia é que ainda há tempo. Se acelerarmos agora, podemos evitar os piores cenários e garantir que nossos filhos e netos herdem não um planeta em colapso, mas um lar vibrante e cheio de vida. O futuro não está escrito: cabe a nós decidirmos se será de devastação ou de esperança.

* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética

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