Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de maio de 2025
A maternidade é um dos maiores desafios para a permanência e ascensão feminina no mercado de trabalho. Um levantamento do portal Empregos.com.br mostrou que mais da metade das mulheres (56,4%) já foi demitida ou conhece outra mulher que foi desligada após o retorno da licença-maternidade.
“É um dado que vai em linha com o de outros levantamentos anteriores”, diz Margareth Goldenberg, gestora executiva do Mulher 360 (movimento empresarial que trabalha pela equidade de gênero).
Um estudo da economista brasileira Cecilia Machado, feito em parceria com Douglas Almond e Yi Cheng – ambos da Universidade Columbia –, mostra que, nos Estados Unidos, a renda da mulher cai em média 50% após ela se tornar mãe.
Mulheres que antes eram provedoras da família veem suas receitas recuarem ainda mais: 60%. Os dados indicam que, após a maternidade, as mulheres têm menor probabilidade de mudar para uma empresa com salários mais altos do que os homens e são substancialmente mais propensas a deixar a força de trabalho.
Assédio de colegas
As discussões em torno de discriminação de gênero no ambiente corporativo após a maternidade ganharam repercussão nos últimos dias após a executiva Carolina Ragazzi publicar um vídeo nas redes sociais em que afirma que, antes de ser mãe, estava entre os 10% dos profissionais mais bem pagos de seu nível no banco em que trabalhava. Segundo ela, isso mudou após sua primeira licença-maternidade, quando passou a ser “assediada” e afastada de projetos relevantes.
Na sua terceira licença-maternidade, Carolina foi alvo de comentários no WhatsApp. Um dos profissionais no grupo sugere a criação de um “Prêmio Carol Ragazzi” para aqueles que estão “no banco, mas ninguém lembra”.
Outros casos
Executivas de outros setores entraram em contato com Carolina. Uma delas contou que tinha uma carreira de sucesso na indústria química, foi uma delas. Quando, aos 32 anos, voltou de um mestrado na Europa e tentou se reinserir no mercado, foi questionada em uma entrevista de emprego se pretendia ter filhos. Conseguiu se realocar com dificuldade. Depois de um período, tirou licença-maternidade. Foi demitida no dia que retornou ao trabalho.
Outra relatou ter sido demitida grávida. Ela tinha uma carreira de 15 anos como executiva de recursos humanos. Precisou tirar licença por ter um sangramento. No retorno ao escritório, informou a um dos executivos da empresa que não poderia fazer uma viagem a trabalho por recomendação médica. A resposta, em tom jocoso, foi: “Verdade, você está incapaz”.
Falta equidade
Professora do Insper e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero, Ana Diniz destaca que, além de as mulheres serem responsabilizadas pelo cuidado dos filhos e da casa, o que muitas vezes compromete o desempenho de suas funções no trabalho, as empresas em geral não estão preparadas para receber mães. “As organizações não têm um ambiente receptivo que reinsira as mulheres no trabalho e permita que elas continuem sua jornada profissional.”
Margareth, do Mulher 360, acrescenta que um dos pontos-chave para se ter equidade de gênero no ambiente corporativo é que os homens também assumam a responsabilidade de criar os filhos, o que pode ser incentivado com leis que ampliam a licença-paternidade.