Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de dezembro de 2023
O dólar encerrou a última sessão da Bolsa brasileira no ano em queda de 8,06% contra o real no acumulado de 2023, a R$ 4,8525. É a maior desvalorização desde 2016, ano do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Naquele ano, o dólar depreciou 18% em relação à moeda brasileira. Nessa quinta-feira (28), a moeda registrou leve alta de 0,41%, enquanto na semana teve queda de 0,17% e, no mês, caiu 1,28%.
Ainda que fatores globais tenham contribuído para o desempenho da moeda em 2023, os principais impulsionadores do movimento registrado neste ano foram fatores domésticos, analisa Mariam Dayoub, economista sênior do banco suíço Julius Baer no Brasil.
É possível chegar a essa conclusão calculando a correlação do real com o índice futuro do dólar (DXY) e com um índice de moedas emergentes (latinas, asiáticas e do leste europeu). Em, 2023, essa correlação ficou em 25% e 62%, respectivamente. “Enquanto a correlação com o DXY é baixa, a do índice de moedas emergentes é apenas moderada”, diz Dayoub.
Exportações e investimentos
O primeiro motivo interno que levou à depreciação da moeda em relação ao real foi a safra agrícola recorde e as fortes exportações de petróleo do País, que levaram a um saldo comercial recorde. Ou seja, o Brasil exportou muitos produtos, o que aumentou o fluxo de dólares. Pela lei da oferta e demanda, quanto maior o fluxo da moeda americana, mais ela tende a se depreciar.
Além disso, os fluxos de investimento externo para o País continuaram robustos, financiando “tranquilamente” os déficits em conta corrente, diz Dayoub. Apesar de o Banco Central do Brasil ter sido um dos primeiros do mundo a iniciar o movimento de flexibilização da politica monetária, o diferencial de juros combinado com menores incertezas politicas continuaram a atrair fluxos para ativos financeiros brasileiros.
Houve ainda uma maior clareza das políticas econômicas do governo Lula, além da revisão do crescimento do País para cima, sustentado por um consumo forte das famílias brasileiras. Lucas Farina, analista da corretora Genial, desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final do ano passado houveram muitas incertezas que fizeram a moeda americana iniciar o ano em um patamar alto, fator que também colaborou para que a moeda passasse por um ajuste ao longo do ano.
“No início do governo sabíamos que o teto gastos seria substituído pelo novo arcabouço fiscal, enquanto o regime de metas de inflação, de 3%, foi muito criticado. Tudo isso contribuiu para a elevação das incertezas. Apenas quando o arcabouço foi efetivamente apresentado e a meta de inflação foi reafirmada até 2026 que a moeda americana passa a se desvalorizar em relação ao real e permitiu ao BC começar a cortar os juros”.
Retrospectiva
O movimento mais forte de desvalorização do dólar contra o real ocorreu entre abril e julho, puxado pelo saldo comercial recorde e avanços nas propostas de reformas políticas. O destaque foi o novo arcabouço fiscal, que retirou o risco de cauda na execução da política fiscal, bem como a reforma tributária.
Já entre agosto e outubro o real se depreciou por conta de fatores globais, explica a economista do Julius Baer. “No período, houve um forte movimento de aversão ao risco no mercado financeiro, impulsionado por um forte movimento de alta nas taxas de juros de 10 anos dos EUA. Como consequência, os índices de ações globais registraram desempenho negativo. Neste momento o real acompanhou o movimento das moedas em geral e se depreciou em relação à moeda americana”.
Por fim, a partir de outubro houve um forte ajuste dos preços nos mercados globais, puxado pelos dados da economia americana que passaram a indicar um pouso suave, como indicadores do mercado de trabalho que mostraram moderação na atividade econômica, o que favorece uma postura menos inclinada ao aumento de juros do Banco Central americano, o Fed.
Os dados da economia americana subsequentes confirmaram essa tendência, enquanto a inflação surpreendeu para baixo. Com isso, o mercado passou a prever cortes de juros mais intensos pelo Fed em 2024, sustentando esse movimento associado a um aumento de apetite por ativos de risco, que leva a uma depreciação do dólar contra seus pares, inclusive o real.
Projeção
Se a economia americana de fato conseguir fazer um pouso suave, o que o Julius Baer Brasil considera como seu cenário base, e o Fed iniciar um processo de flexibilização da política monetária entre o 1º e o 2º trimestres de 2024, os mercados seguirão favorecendo ativos de risco, o que levará o dólar a se depreciar “modestamente”, na visão de Dayoub.
Já no caso de uma recessão americana, choques no sistema financeiro, novos conflitos geopolíticos ou agravamentos dos conflitos existentes, os mercados devem priorizar a busca pela segurança, o que favorece uma apreciação da moeda americana.
Por fim, caso a inflação americana reacelere ou não caia conforme o esperado, o Fed atrasaria os cortes de juros, o que também levaria a mercados menos propensos ao risco e a uma apreciação dólar frente a outras moedas.
É necessário pesar ainda nas decisões de investimentos que, em 2024, as eleições americanas tendem a impactar a moeda.